segunda-feira, 30 de abril de 2012

não façam da árvre
do bem e do mal
o pomar inteiro
o dia que chega ao fim tem
trás de si
tudo o que foi dia inteiro

mas após cada dia
quase a todo momento
um dia novo supera o primeiro

do amanhã pouco ou nada
o hoje pode saber

apenas o que acontece
consegue a si mesmo ver

domingo, 29 de abril de 2012

cama sutra

escrevia sobre as mulheres

mas só algumas achavam estranho
servir de tampo de mesa humana

sábado, 28 de abril de 2012

ismael

chama-me antiquado
normativo
arrogante
um fascista

mas não creio em mundo bom
com uns textos ruins assim
e a manhã virá
no dia em que os surdos
deixando de arrastar
poema escrito a todo lado
verão a poesia
sem estados

sexta-feira, 27 de abril de 2012

o luar

a lua
reflete sobre o vidro
do tampo da minha mesa

igual e diferente
a poetas do mundo inteiro
escrevo sobre a lua

revisão

na doutrina
do pescado original

adão comia peixe
e não maçã

o homem que comia pãos

Partia ao meio, pão por pão, rancava miolo e passava um queijo cremoso feito em Minas. Pouco queijo cremoso, muito pão. Tinha dinheiro não, pra ser de outro jeito. Presunto, peito, salsicha que seja? Nada. Comia pãos um atrás do outro, minuto depois do antes, dia após dia, comia.

Casa de taipa. Taipão, assim, beira-rio. Tinha dinheiro não, meu fio, tinha não. Morava lá pra lá, sem escola em criança, sem serviço em adulto, sem livros nas estantes. Sem estantes. Não sabia que plural de pão são pães, sabia não 

por isso comia pãos.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

não vais achar o amor
de tua vida
olhando a minha

no sentido bíblico

para adão e eva
disse deus:
- a fim de que possais
gerar a vossa prole
conhecer-vos-ão

então adão e eva
muito dos sacanas
pensaram é que era
pra se conhecerem
vocês sabem como

mas deus só queria
apresentar ao nono
sua própria cria

conhecer vôzão é que deviam

paranormal


A sala estava escura quando entraram, tal qual o corredor. O cheiro de carniça empesteava o ambiente. Pedro pôs o pé pra dentro do primeiro quarto escuro e gritou. Jonas parecia ter caído.

- Você está bem?

- Não.

Jonas levantava aos poucos, tentando ser ligeiro. Só Pedro estava armado, porque o parceiro tinha nas mãos um corpo magro de um menino morto. Ou quase morto, ainda não sabiam. O ambiente estava mesmo muito escuro.

- Escuta, Jonas, como diabos esse menino foi parar nas tuas mãos?

- Não sei, cara, já disse. O corredor estava escuro e cheio de gente. "Gente", tu entendeu. Ele foi o único que não tentou me morder, então acho que não era assim tão mau. Digo, ele até tentou falar algo.

- "Atire na cabeça". Parece a porra de uma história de terror.

- Atire na cabeça, pois é. Por isso eu te falei. Atire na cabeça.

Do fundo do corredor que parecia levar à saída um par de brilhos vermelhos piscou um momento ou dois. Depois gritou, piscou de novo e correu. Pedro estava com a arma apontada pro meio dos dois pedaços de luz acesa, mas Jonas estava mais preocupado com a miríade de olhos de gato que começava a virar a esquina. O corredor tinha agora diversos olhos vermelhos piscantes, mas nem todos corriam. Só alguns vinham por vez, gritando e gemendo, enquanto o segundo grupo esperava de olhos abertos, atrás. Eram organizados, os filhos da puta.

- Zumbis não existem, cara.

- Não. Mas desde que descobrimos que um tiro no meio da testa - bang! - também mata vampiro, lobisomem, fantasma e a porra toda, por que eu desperdiçaria balas atirando no peito ou pernas? Zumbis podem não existir - bang! - mas deram uma boa educação balística pra nossa geração.

Os tiros ecoavam, certeiros. Agora até Jonas brincava de mate-o-pato, mesmo que não houvesse nenhum urso de pelúcia a levar de prêmio.

A horda caiu. Poucas balas restavam. Pedro, sorrindo, disse quase como um cumprimento: "atire na cabeça".

Quando abriram a porta, no terror escuro da madrugada, uma manada de mulas-sem-cabeça os esperava.

- Fodeu!

E eles correram.

sábado, 21 de abril de 2012

quando passo
pela porta
do terraço

há um anjo pendurado no batente

vejo as portas se abrindo enquanto passo
do degrau debaixo para o de cima

ouço as asas abanando, ouço a salva
de umas palmas céu e sol e mar erguidas

quando passo
pela porta
do terraço

vejo o anjo torto com a cara no chão
e com a mão esquerda, já subindo a casa
ponho o anjo segurança de plantão

sexta-feira, 20 de abril de 2012

aos olhos do girassol
não há uma unidade

quarta-feira, 11 de abril de 2012

one day

preste atenção às batidas na janela
às vezes campainha não funciona
às vezes porta aberta e ele não entra

atenção às batidas
à janela
à brisa que passa pelo vidro
defronte à casa dela trás da igreja

ouça, senão veja,
os tremores das paredes
quando batem
levemente
procurando no batente a fresta certa

às vezes porta aberta não é nada

às vezes vale mais tocar ao vidro
da janela
que fechada
abre e chama
para entrar

segunda-feira, 9 de abril de 2012

texto de minha mãe

eu não corro, mas ando muito e cheguei à conclusão, conversando com a Nayara, que ando muito pois quando pequena fiquei internada no São Lucas e disseram baixinho para minha mãe: Talvez ela não ande nunca mais... então eu ando.

domingo, 8 de abril de 2012

doença passa
a morte fica

invista em algo permanente
:funerária já vais tarde

sábado, 7 de abril de 2012

de pascoaes

No princípio Deus criou o Silêncio
e ouviu que era bom.
Durante a semana deus descansou
e fez Bem.

Quando o Mal chegou
descansou também.