sexta-feira, 29 de junho de 2012
quinta-feira, 28 de junho de 2012
quarta-feira, 27 de junho de 2012
quinta-feira, 21 de junho de 2012
contos de fábulas X
- Por que você usa sempre camisinha, mesmo que o cliente ofereça muitas mais peças de cobre? - perguntou o regente à prostituta da cidade.
- Porque não quero colocar no mundo mais filhos da puta.
- Porque não quero colocar no mundo mais filhos da puta.
contos de fábulas IX
O imperador andava de um lado ao outro da sala, mãos nas costas, preocupado, sol entrando pela janela alta.
- O que fazer, então? Propor um acordo, capitular, dar razão e mais controle ao Grão Khan do Catão? Afinar o coro dos contentes? Ou manter a resistência, arma em punho, bradar bravatas e ir de encontro ao sádico expansionista? Desafinar o coro dos contentes?
Uma voz da assembleia asseverou: "Afinar o coro dos descontentes".
Um bandolim na praça central tocou acordes, meio afinados, mas sem um coro que atrapalhasse seu trinado passaral.
No salão do imperador, sentado a um canto, em silêncio, o conselheiro permanecia corado.
segunda-feira, 18 de junho de 2012
contos de fábulas VIII
A espada caiu no mosaico do salão principal, ecoando por todo o castelo. O imperador estava aborrecido com algo, mas não aparentava: sua face permanecia impassível, tranquila. Até sorria um pouco.
- Que há, nobre senhor, vossa alteza?
- Nada. Apenas voltei para casa.
- No meio da guerra, meu senhor, vossa alteza?
- No meio da guerra não, que a guerra acabou. Acenei para o inimigo um "pronto, chega", virei as costas e vim-me embora.
- E... e o inimigo não vos perseguiu? Não vos emboscou? Não matou vossos pelotões?
O silêncio dos pássaros de outono cantava nas janelas altas do salão.
- Não.
- Mas... meu senhor, vossa alteza, perdoe-me a ousadia mas... mas e a honra da guerra? E a guerra justa, a boa guerra, a guerra que vale a pena ser combatida?
Agora o imperador, meia idade, sorria.
- Não há guerra que valha a pena ser combatida, meu amigo. Agora, se não for exigir demais de vossa servidão, sente aqui a meu lado e vamos acabar com uma ou duas garrafas de vinho.
contos de fábulas VII
Ensanguentado, com o mundo incendiado às suas costas, o velho imperador caminhara arrastadamente até a parede de pedra antiga. Chamuscada. Cansado, recostou-se e escorregou lentamente até o chão.
- Dia difícil? - perguntou o taverneiro, já idoso, sentado sobre um barril de sua melhor cerveja. Vazio.
- Ô - respondeu o imperador - Que fazes aqui, agora, no fim de tarde após o armagedão?
- Ah... minha preguiça me salvou do fim do mundo.
terça-feira, 12 de junho de 2012
contos de fábulas VI
Mirando seu reflexo no lago, o jovem imperador se perguntava o porquê de Narciso ter morrido. Por que ninguém salvara o belo rapaz? Por que, vendo que Narciso se afogava, ninguém perto do lago o foi salvar?
Então, no mesmo lago que o espelhava, o imperador viu surgir a imagem de um cavaleiro, um de sua guarda pessoal. E aí entendeu: não havia ninguém ao redor de Narciso, nem perto do lago, porque toda imagem que não fosse a dele seria uma mancha impossível de aguentar.
O guarda não entendeu a razão de o imperador sorrir. O imperador, por sua vez, pensava que havia sido, por fim, um bom pagamento: obcecado em livrar seu espelho de qualquer mancha, Narciso se afogando terminou por lavar a própria arrogância.
sábado, 9 de junho de 2012
pegadas na areia
E quando olhei pra trás não vi minhas pegadas na areia. Apenas a marca de um pé, que não o meu, estava sob as ondas que pouco a pouco invadiam a praia. Então compreendi:
Nos momentos de maior dificuldade, fui carregado nos braços
pelo saci.
Nos momentos de maior dificuldade, fui carregado nos braços
pelo saci.
contos de fábulas V
- Jogue-o no calabouço, regente, execute-o!
O jovem imperador entrava na adolescência. Era todo fúria e ímpeto, tempestade de autoridade recoberta com manto azul. O regente ditou a sentença: trabalho nos campos comunitários, cárcere provisório e assistência às obras da igreja. Voltaria a ver sua família apenas dois anos depois.
- Mas ele conspirava contra o trono! Não, pior, ele conspirava contra a cidade! Talvez contra o império! Não podemos deixá-lo livre, não podemos deixá-los pensar que venceram, que qualquer um pode ameaçar a ordem do mundo!
- O mundo está cheio de pequenas teorias da conspiração, vossa alteza. Teorias de conspirações e mesmo de conspirações reais. Até para falarmos contra elas devemos ser precavidos: nunca sabemos quando nosso discurso poderá soar conspiratório.
sexta-feira, 8 de junho de 2012
contos de fábulas IV
Adulto, o imperador se arrastava ao fim da batalha. Seu braço lacerado, espada ensanguentada, rosto suado escorrendo por sobre a armadura centenas de preocupações.
Havia vencido, mas o mundo parecia escuro à sua volta. Quando entrou na tenda reservada a seu descanso, lá estava o ex-regente.
- O que faço, senhor? Se luto pela Verdade, Justiça, pela Luz, por que tudo parece escuro assim?
O velho nunca gostara de guerra: em seus tempos de regente apenas dera ordens que defendessem o império, tentando nunca iniciar um embate. Não era bom de ofensivas, não gostava delas, não julgava serem boas nem quando eram para o Bem.
- Se buscas a luz, vossa alteza, olhe para a Luz. Se olhas a escuridão, meu senhor, verás escuridão. Mas mesmo ao olhar a Luz, ao se guiar por ela, não sejas a luz. Ser a Luz vos impede de compreender a escuridão.
contos de fábulas III
Sentado na muralha do castelo, com as pernas balançando sobre o vazio daquela encosta, o jovem imperador procurava a origem dos piados que ouvia.
De pequenos buracos ao longo do muro, rachaduras, frestas antigas, ao lado do limo crescente cresciam também outras flores, plantas, trepadeiras-roxas de primavera. Com elas, pequenos pássaros adornavam suas casas, piando ao som do calor das montanhas.
Não que aquela parte do império desconhecesse a guerra. Pelo contrário, poucos meses antes inimigos investiram contra os muros, e onde escorriam cantos antes correra sangue. Mas as plantas não são breves como a vida.
Do alto da muralha o imperador procurava a voz dos cantores ocultos, nos pequenos rincões que adornavam a mais dura e fria fortaleza.
contos de fábulas II
A tensão chegou ao ápice, no alto da montanha.
- Você não pode ser um místico em um mundo sem heróis!, gritou o jovem imperador com sua espada em punho.
- E vossa alteza não pode ser herói em um mundo sem contemplação. Em algum momento a ação chega ao fim, e se o olhar não estiver treinado o mundo pelo qual se lutou tanto desaparece bem à sua frente.
O lavrador ouvia calmamente a discussão, enxada arando a terra ao sopé do monte dos reclusos. O sábio era sábio, pensou, alteza era brava, pensou. E prosseguiu cavando sulcos na terra úmida.