eu fui
breve instante
impermanente
quarta-feira, 18 de julho de 2012
terça-feira, 17 de julho de 2012
contos de fábulas XI
Confrontado pela impetuosidade do jovem imperador, o regente mantinha-se tranquilo. No salão em que se encontravam, aias e pajens fingiam-se ocupados para fugir às palavras áridas do pequeno governante. O regente não. Já ouvira antes aqueles mesmos brados, ímpetos e agressões. Quando o imperador perdeu o fôlego, após muito gritar, o regente apenas comentou:
- Você pode negar muitas coisas, mas não pode negar tudo. Tudo é a única coisa que não compreendemos.
segunda-feira, 16 de julho de 2012
política [sic]
A mulher Collor de Mello foi à TV. Sobre a política, pouco importa. O que importou foi religião. 20 anos depois do impeachment, não faz qualquer diferença saber o que pôs ou tirou o homem Collor de lá.
Por outro lado, 90/92 ressoa no imaginário brasileiro como algo tão negativo quanto a ditadura. Foi um dos "períodos nefastos" do Brasil, em que o povo se mobilizou para derrubar as forças do Mal que presidiam isso tudo.
Mas no ano em que o IBGE evidencia o crescimento crístico das comunidades evangélicas, a mídia volta 20 anos no tempo não para falar sobre política: ela volta no tempo para falar sobre os nefandos poderes da magia negra. O que pouco importa, também, porque cada um reza para aquele em quem crê, e tirando o sacrifício animal não faz diferença se a magia é negra, branca ou furtacor.
Enquanto a maioria se preocupa em criticar a reclamação sobre a pensão de 18 mil, pouca gente percebeu uma inferência curiosa: se um dos piores momentos do Brasil foi causado por magia negra, e se hoje a mulher Collor de Mello admite isso por se ter convertido a Cristo, brinca-se com o imaginário político dizendo algo como
a única forma segura de política
é a baseada no Evangelho.
Essa, minha gente, é a boa nova, que nem a Renata do Fantástico nem os indignados pela pensão estão apontando com justeza.
Ah, é verdade, ela também vai lançar um livro. Porque todo mundo lança livro. Justin Bieber lançou um livro, por que ela não lançaria? Bela Academia...
sexta-feira, 13 de julho de 2012
42
Vez ou outra uma lembrança chega, vinda de dentro da bolsa. No fundo sujo de uma mochila velha, meio laranja amarela, que já rodou pelo mundo, de vez em quando u'a memória brota.
É quando meto a mão ali dentro e puxo de uma caneta, por entre uma camiseta, cueca e barbeador. Mochila velha, suja e bagunçada, que não tem ali quase nada mas tem tudo que eu tenho pra por.
Um bilhete de trem desde o sul, pra Taipei. A passagem do teleférico subindo a escarpa, as pedras, levando a mim e a ela pro alto do mar português. Uma nota fiscal escrita em árabe, café da manhã no Marrocos, nosso último café da manhã.
Eu não saberia fazer toda a conversão das moedas, com juros e correção. Não sei quanto vale hoje o que valeu cada um dos pedaços manchados de papel.
Um pedaço de papel fino, estreito, sujo, tão velho que não tem mais nada escrito, e que agora uso pra anotar seja lá o que for. O que será que era antes? Quando tinha algo escrito, em que língua? Teria sido algo interessante ou só a conta do bar da esquina?
Minha mochila guarda mais coisas que eu. Mas até ela é pequena.