sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
família educa
escola educa
o dono da padaria, meu bem,
educa
e educa também o porteiro
o cão que ladra
o carteiro
a carta que chega
o e-mail
a árvore enfeitada no meio
da sala quadrada, o cheiro
de terra molhada
educa
o sol que amanhece
a chuva
a fome do homem
a nuca
do bicho escondido
arapuca
do velho mateiro
o Juca
o bom pipoqueiro
que desde o começo
labuta
e educa o moleque
que estuda
com o milho que explode
ensina
lição
big bem
domingo, 9 de dezembro de 2012
quarante troisième em homenagem a Gilbert Durand, hoje água
O sol na teia de aranha ilumina um canto do quarto com brilho de caçador. É manhã. Tremendo presa a ela não sei se está aranha, mosca, folha ou estrela perdida da noite anterior.
Voa um vento quarto adentro, erguendo as folhas da mesa e varrendo os pensamentos. Post-its colados no mundo amarelecem parede de um mapa de azul profundo.
No fundo de algum oceano há de haver, mesmo no instante agora, uma grande teia marinha impedindo que as águas fundas acabem por ir embora.
A vocação das águas é trocar de casa.
quem gosta de escrever poesia, preste meia atenção nisso: os versos, dispostos um abaixo do outro - normalmente - dão uma cadência rítmica à leitura. Teus versos podem ser quebrados, podem não ter rima, podem não ter métrica, podem não ter nada, mas eles sempre vão ter ritmo, porque estão apresentados em unidades visuais que, grosso modo, possuem sonoridade própria. Esses versos precisam ter um ritmo agradável, e não só o ritmo casual que uma versificação arbitrária deixou de herança - por outro lado, nem sempre métricas feitas a régua conseguem ritmos bons.
O balanço da coisa é esse aí: ouça o que as palavras dizem - não o que elas querem dizer, não o que elas significam: o que elas .
sábado, 8 de dezembro de 2012
conto contos de fábulas III
[contos de fábulas III
Sentado na muralha do castelo, com as pernas balançando sobre o vazio daquela encosta, o jovem imperador procurava a origem dos piados que ouvia.
De pequenos buracos ao longo do muro, rachaduras, frestas antigas, ao lado do limo crescente cresciam também outras flores, plantas, trepadeiras-roxas de primavera. Com elas, pequenos pássaros adornavam suas casas, piando ao som do calor das montanhas.
Não que aquela parte do império desconhecesse a guerra. Pelo contrário, poucos meses antes inimigos investiram contra os muros, e onde escorriam cantos antes correra sangue. Mas as plantas não são breves como a vida.
Do alto da muralha o imperador procurava a voz dos cantores ocultos, nos pequenos rincões que adornavam a mais dura e fria fortaleza.]
pré-efemérides
Daqui a dez anos teremos um século de Modernismo, e nem nos tornamos Modernos - no sentido desenvolvimentista do termo - nem nos modernizamos - no sentido estético e programático que, desde o comecinho, pressupunha dedicação e leveza.
Daqui a cinco anos teremos meio século de Tropicália, e nem nos tornamos Tropicais - porque ainda desejamos e ambicionamos nordicidades que não nos pertencem - nem nos tropicalizamos - no sentido de que continuamos enchendo cidades, asfaltando o mundo e deixando os trópicos escondidos sob concreto e sisudez acadêmica.
Da Tropicália, também, não mantivemos a dedicação de pensar, sinceramente, a estética. Falta, hoje como há cinquenta anos, dedicação formal constante. E leveza.
Aproveito-me de efemérides antecipadamente: dez e cinco anos. O que faremos, nesse tempo? A que dedicações estéticas, estilísticas, a que fruição de vida, a que renovação das coisas pretendemos estar atentos? Dedicados?
E leves.
Se algo se fortaleceu nesses últimos decênios, talvez tenha sido a despreocupação com a forma, com a estética. O mesmo movimento que enaltece padrões de beleza e consumo rebaixa a dedicação com pensares de estilo, de questões formais.
Fala-se muito, quer-se dizer muito, diz-se mal. Em algum momento perdemos a noção de que mostramos o que mostramos, e não a nossa intenção. O conteúdo ganha seriedade, peso. A estética perde atenção. E leveza.
Dentro de cinco e dez anos serei chamado a analisar meu próprio trabalho, e rever o que fiz - terei feito - para contribuir de alguma forma com aquilo que me parece, de um jeito ou de outro, essencial. Em cinco e dez anos, passados os momentos que historicizam os conteúdos do que é arte, do que é produção, a única coisa ainda viva será o estilo com que isso - seja lá qual isso - foi feito.
Talvez seja um problema de aceleração de meios, de circulação. Talvez queiramos transmitir incessantemente uma quantidade enorme de informações, novas coisas, novas ideias, e não lembremos de que informações, novas coisas e ideias precisam de atenção, de boa forma, de estilo e auto-suficiência.
E leveza.
umbandharma
saravá buda amitabha
maitreya lhe chamou
fez-se a cruz, a oferenda
sete linhas já cruzou
aos espíritos famintos
nas esquinas das cidades
toca o sino, o surdo e o pito
a cachaça e a verdade
ressoam pelos seis reinos
a voz de todos os guias
das dez direções, do centro
a gira de todo dia