meu altar
agora é um formigueiro. a entranha da madeira dá guarida
às formiguinhas. milhões de muriçocas esvoaçam
pelos ares, o vento agita as plantas e os palmares.
no muro que separa minha vila da vizinha,
por muito tempo houve uma passagem, um portão.
agora não. o muro foi tapado e a passagem, muro novo, destoa
do antigo só um pouco. outro dia, indo à praia, salvando o sol ardente
na carcaça, eu vi um lagartinho escalar o novo muro.
ali, onde antes se podia atravessar, agora é escada.
lagarto indo ao céu é nosso anjo, e sob o meu altar, no entretanto,
formigas, budas, santos vão morando.