um casal de abacateiros
caminha pela cidade
em ruas por onde arde
a chama de mil letreiros
te vejo como uma peça literária
diz ele à abacate
em que cada de suas partes
são como incêndio inteiro
são plumas de cem poleiros
em que o corvo choca a tarde
te enxergo tal lusco-fusco
diz ela ao abacateiro
teu brilho firme e confuso
teu samba de um sem terreiro
e as velas que acendem noite
acendem planeta inteiro
dois abacateiros
repletos de polpa e sumo
caminham por entre a noite
verdes, amigos, juntos
e nada mais faz sentido
que não esteja contido
no sonho de brotar frutos
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