quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

cena bambanal

As cenas banais perderam os números. Perderam os números, os nomes, um tanto da memória, as cenas banais. Perderam a hora, saíram de tarde, seguiram pra praia sem nada, só berma sem nem um dos pés de chinelo, nenhum. As cenas banais já são algo comum.

Perto do mar, solas quentes queimadas na areia no sol, perto do mar e eu sem óculos, lá longe duas meninas pequenas lindas lindas negras de maiô davam estrelas, estiradíssimas, duas belas bailarinas as duas meninas. Uma, a mais velha ou maior, rodava rodava rodava com as pernas e os braços e as asas na areia, estrela perfeita. A outra, quase. Duas meninas lindíssimas, duas pequenas virando estrelas no mar.

Depois corro, como sempre, corro sempre, corro. Pela beira d'água, espelho do céu, mar, chapinhando água lama nas chapinhas nas crianças nas loiras de bunda grande nos cabra de braço armado nos frescobol. Paro. Uma maça de capinha azul no chão, um telefone, mil de reais condensados. Na água, sendo banhados pelo azul de Iemanjá. Pego. Funciona.

Sento na areia, procuro contatos, faço contato, Irmão, Teu Irmão Se Lascou Aqui, Perdeu O Celular Da Maçã Novinho Em Folha. Porra!, Não, Vou Aí Buscar. Demorou, Tô Na Areia. Estou. Na areia, sentado, queimando os pés no sol fritando as ideias. Atrás, nos coqueiros, uma moça caminha na corda bamba, dança, gira, pula, cansa, sobe de novo e anda.

Ando. Falo. Espero. O cara aparece depois de um tempo, e nesse tempo ainda estou caindo mais que mamãos maduros comidos por morcegos, estou. Mas por pouco tempo. Ando. Ando e ando e volto, mão num coqueiro e noutro, levanto na faixa com a coluna reta como se meditasse, como se fosse um templo a praia em que estou andando, em que estive correndo, em que vi no começo duas meninas negras lindas lindíssimas virando estrelas do mar.

O sol, acima, brilha.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

"Bonito, isso. Esse teu acabrunhamento. Feliz, fica a contento de nosso encontro. Bonito, isso."

AURELIANA, Dona

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não escrevo mais poemas.

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de minha parte
não gosto de quem se define
de quem se dá nome
se engessa em certezas em egos
marcados
por cartas já dadas

por exemplo
tivesse eu que me definir, agora, me nomear
diria que sou nem
só pra poder marcar
o que não marca

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ano
de vagões descarrilados
pássaros em chamas ano de enfado
fado dramas
bananas plantadas ao vento
coração de bananeira trepadeira tempo
cafés servidos ao alto do céu sem fundo
sentimento do mundo dolorosamente quieto
súbito
sutilmente confuso
profusão de espinhas gélidas
de elas e elos e eus

ano descarrilamento fé febre deus

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hoje nasceu um buraco
nas fímbrias do pensamento
hoje brotou um lamento
no ramo mais alto do arbusto

não acho justo
mas é
natural
que as coisas não fluam

nem tudo é rio

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por favor
com licença
obrigado
zumbi
headshot

palavrinhas mágicas

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ô,
black friday, nêgo
lima essa fernanda
e risca o martin também
do nosso samba

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um retumbante não

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y os pó
derosos segue
tudo
sambando sobre nosso
túmulo

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obsessão
não é
poesia

tu
não é
poesia

tu
é

ob
se
ssão

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ramirão ão ão
já dizia
não
que comeremos os mamãos maduros
da insubordinação

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poesia, deus e honestidade política
a trindade inexistente

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por um léxico cerebral tupiorubá

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Brasil, o bastião da pó-modernidade

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por um mundo de rebeldes sem calça

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dos belos substantivos compostos:

orgasmos múltiplos

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começar
todo santo dia como se não soubéssemos
escrever

acordar com os olhos e ouvidos
atentos

prosseguir todo todo dia até o último
seja quando for
com uma dúvida incrustada no corpo

ser o melhor amigo do cão
quando calar

quando ousar falar
do dicionário

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homer simpson
o homero
george romero
e zéu britto

eis as combinações possíveis

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todo poeta
é houdini
literatura é um escapismo forte
é uma esgrima ilusionista
co'a morte

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Quando da confecção de um boneco vudu

tenha em mente tenha em mãos
as seguintes condições:

que não seja, a cara dele,
parecida sequer parecida
com a tua cara, seu costureiro
brujo, feiticeiro, intruso
no sonho alheio

que não se pareçam contigo
também
os olhos alfinetados os braços
sequer a roupa a roupa sequer
quando for costurar um vudu

toma cuidado
que ele não se pareça sequer se pareça
com tu

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se vossas vozes
fossem
fossas
sentido elas fariam

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proponho uma proposta
ouve aqui, vê se tu gosta
olha, ouve
proponho uma proposta que nunca se escutou
antes
proponho que arranhemos
céu
ambos
proponho o que nunca dançamos
proponho, ouve, olha
ouça
proponho que se proponha
outra
prosa
proponho mesmo outro começo
veja

tu
mais
eu