As cenas banais perderam os números. Perderam os números, os nomes, um tanto da memória, as cenas banais. Perderam a hora, saíram de tarde, seguiram pra praia sem nada, só berma sem nem um dos pés de chinelo, nenhum. As cenas banais já são algo comum.
Perto do mar, solas quentes queimadas na areia no sol, perto do mar e eu sem óculos, lá longe duas meninas pequenas lindas lindas negras de maiô davam estrelas, estiradíssimas, duas belas bailarinas as duas meninas. Uma, a mais velha ou maior, rodava rodava rodava com as pernas e os braços e as asas na areia, estrela perfeita. A outra, quase. Duas meninas lindíssimas, duas pequenas virando estrelas no mar.
Depois corro, como sempre, corro sempre, corro. Pela beira d'água, espelho do céu, mar, chapinhando água lama nas chapinhas nas crianças nas loiras de bunda grande nos cabra de braço armado nos frescobol. Paro. Uma maça de capinha azul no chão, um telefone, mil de reais condensados. Na água, sendo banhados pelo azul de Iemanjá. Pego. Funciona.
Sento na areia, procuro contatos, faço contato, Irmão, Teu Irmão Se Lascou Aqui, Perdeu O Celular Da Maçã Novinho Em Folha. Porra!, Não, Vou Aí Buscar. Demorou, Tô Na Areia. Estou. Na areia, sentado, queimando os pés no sol fritando as ideias. Atrás, nos coqueiros, uma moça caminha na corda bamba, dança, gira, pula, cansa, sobe de novo e anda.
Ando. Falo. Espero. O cara aparece depois de um tempo, e nesse tempo ainda estou caindo mais que mamãos maduros comidos por morcegos, estou. Mas por pouco tempo. Ando. Ando e ando e volto, mão num coqueiro e noutro, levanto na faixa com a coluna reta como se meditasse, como se fosse um templo a praia em que estou andando, em que estive correndo, em que vi no começo duas meninas negras lindas lindíssimas virando estrelas do mar.
O sol, acima, brilha.