terça-feira, 14 de dezembro de 2010

menino de sucata

No fundo da lata
de lixo
no vício
da dama
que compra
que esbanja
e descarta

um pobre menino
sem pátria
sem vício
sem lata
de cola
sem grana
da esmola

coleta a garrafa
e amarra
na sola da pele
do pé com que joga
a bola

protege do prego
do quente do asfalto
no meio do lixo
em que mora
e trabalha
catando sucata
papelão e lata

menino sem nome
com fome
sem prato
que cresce
aos poucos
achando um barato
o pouco que acha
no lixo
e na lata.

sábado, 11 de setembro de 2010

11 de setembro

faz já alguns anos que o dia
onze
é sempre lembrado de maneira torpe.

Sabe como é, não sabe?
dia de avião batendo em parapeito,
feito um ladrão entrando na janela,
entalando
derrubando ela e toda a construção...

dia onze é dia de fazer cair
hoje é dia de derrubar arranha-céus.
e fico cá pensando
se o ´ do e não é como a fumaça que subiu com a explosão
do avião
no prédio.
Se assim for, o que cai é o é
e
derrubando o "e" dos prédios
hoje então é dia
de fazer cair
arranha-cus

sexta-feira, 30 de julho de 2010

brócolis ninja


gosto de brócolos
da palavra e do legume
brócolo, que não existe,
é algo que normalmente eu falo.

é alguma coisa de divino
a prova da existência de deus
tanto que essa planta
hortense, tal couve-flor,
é da família Crucífera,
da cruz, vê só.

Existe uma espécie dela que meio que te envenena:
ficam os braços paralisados por uma hora,
mas as pernas podem continuar andando,
sem problema.

Aquela coisa compacta e verde,
que na ponta tem mais coisas verdes
de onde saem mais brócolis,
cada vez mais,
é muito interessante.

Quando mais você descasca uma cebola
mais cebola acha;
na ponta dos brócolis existem mais brócolis.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Naturalmente, de Antonio Nóbrega




Começou com o violino no canto do palco, que podia ser rabeca, e começou com tanta música e dança no telão de lá de trás que, naturalmente, o resto não podia ser ruim. Antonio Nóbrega traz ao palco um monte de músicas de estilos variados, vários, do país quase todo, coco, samba, choro, tambor de crioula e maracatu. Mais um monte, que eu nem sei citar quais são.

Nóbrega busca compor um estilo, uma escola de dança e expressão corporal baseada nas matrizes dançarinas populares: umbigada, capoeira, frevo, etc e mais. Faz como fizeram os responsáveis pelo balé clássico, por exemplo, que a partir de polcas cirandas campesinas e folguedos em torno da fogueira, na velha Europa dos séculos muito poucos, criaram o balé como o balé é. Seja lá quem os responsáveis forem, seja lá. Nóbrega, por aqui, monta mesmo um balé brasileiro, um baléralé marcelinofreiro, e é genial no que mostra.

Várias boas coreografias, com ritmos diferentes cobrindo o espectro bem vasto do passo corporal. Antonio mesmo e duas bailarinas, Maria Eugênia e Marina, que tão de parabéns, de muitos parabéns. Dançam os três durante hora e meia, te convencendo de que saber mexer com o corpo é trabalho para poucos. Nos três números finais, três solos, Nóbrega sintetiza o que cria, ali no palco.

Ele expressa as bases, as coisas todas nas quais se ergue, enquanto os outros solos demonstram o alcance a que a dança pode chegar. Maria Eugênia é de longe a mais ágil e ligeira, e se no meio do show Antonio Nóbrega explica o que são contratempos e tempo sincopado, é isso que ela mostra. Entre os dois, no outro solo, Marina Abib tem a leveza de quem não precisa de solo algum. Sua dança é lenta e sinuosa, mas rápida como uma roda que não pára de girar. Talvez numa das músicas/coreografias mais peculiares do espetáculo, ela se eleva e enleva os olhos do público até o ar. Literalmente. Naturalmente.


sábado, 8 de maio de 2010

ode à manhã


Acordo com o vizinho vomitando novamente. Deve ter câncer no fígado, não sei. Ou não aguenta dar o cu. É, pode ser isso, daí colocar a música tão alto quando mete, o filho da puta.


Espelho. Marcas de mordida e roxos de pancada. Parece que trepei com um cachorro. Corpo ainda quente pelo álcool; faz frio, hoje, sob o sol.


Cozinha. Louça de uma semana, três pessoas e pouco rango. Quase nada além de uns bichos já crescendo por ali.


Copos são as coisas mais nojentas, quando sujam. Quando descansam, decantam, copos criam formas de vida bem estranhas.


Deus deve ter criado o mundo no fundo de um copo sujo.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Vendo tempestades


Raio, lá longe. 1, 2, 3, 4, 5, 6, Cabrum! Estrondo filhodaputa. E eu aqui, sentado, olhando pela janela a chuva que desce. Tempestade mesmo, com vento, raio, trovão, água água água. Parece sei lá o quê. Aprendi esse truque quando pequeno. Tempos depois vi novamente, numa história da Turma da Mônica. Raio, conta, trovão. Depois divide os segundos por três e sabe a que distância está. A tempestade.

Relâmpago. Não sei se lá longe, só vi o clarão. 1, 2, 3, barulho. Merda, tempestade vindo. E eu vendo a tempestade. Pela janela... vendo. Meu deus, eu vendo tempestades!

Será que isso dá dinheiro? Sei lá, ninguém nunca tentou, não foi? Beleza, a merda é sair na chuva. Chuva da porra... Atravesso a rua e um raio cai. 1, 2, trovão. Puta que pariu, dois divido por três dá quanto? Tá muito perto, esse caralho. O próximo deve cair aqui do lado.

Ainda bem que eu trouxe esse pote de, ahn, pote de vidro. Acho que era maionese, antes. Mas tá limpinho, minha mãe lavou, colocou na água fervente. Tá chovendo mais forte agora. Acho que pego o próximo raio. Vai, estico o braço e o pote aberto começa a encher d’água. Tomara que o raio caia. Mas será que basta? O que é que faz a tempestade?Justificar

Lá vem o raio. Tô sentindo o cheiro, já, ele tá vindo. Droga, esqueci de esvaziar o pote, porra! O raio caiu. Tô vendo, ele tá vindo. Eu vendo, hahahaha, eu vendo tempestades!

Mas... o que acontece quando o raio cai na mão?