sexta-feira, 25 de novembro de 2011

da utilidade


como prova de amor
dou-te uma buquê de couve-flor

assim,
quando acabar nosso romance
terás já algo pro lanche

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

sábado, 19 de novembro de 2011

aerolitos


a estrela cadente cadeu
e olhando pro céu distraídos
nem ela nem eu, afinal
fizemos pedidos

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

a ideologia do folclore


existe um mundo imenso
lá do lado de fora

traga-o pra dentro

lá fora faz sereno
e ele pode gripar

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

run


ele
vendo-a olhar fundo em seus olhos,
somente ela era o que via

terça-feira, 15 de novembro de 2011


nesta semana
não escreverei
vivais vós as vidas
de vocês

na morada do sol


Oh!, Sylvia... sim,
Sylvia, porque é o que todos dizem
ao dizer
de ti
e deles.

Sylvia, defunta, passada, antiga. Eras morta já três vezes quando eu sequer nascera
e, veja!, eu nasci.
Nunca fui um judeu, nunca queimaram meus dedos
- exceto eu, com fogos de sãojoão -
nunca senti na carne a lâmina de um outro porque
ora
porque quando o outro chora eu me vou
e passo
e tudo passa
- ainda que eu me lembre bem daquela vez em que
por eu ter ido
ela quis passar foi dessa pra melhor...

Não sou responsável pelo suicídio
nem de mim, nem dos outros.
Não sou responsável por nada, por nada, nem mesmo pelo cachorro morto
de fome que me lambe os pés.

A vida não me assusta, Sylvia,
e nem é uma puta que sento em meu colo e venho a achar amarga...
A vida não é nada
porque a morte também não.

Num tempo futuro, que já passou,
num tempo futuro eu vi a morte
de perto, tão perto, que não deu pra fugir.
Mas não a procurei: apenas vi
como quem vê um vulto ao dobrar a esquina e
poste!
Dá-se com a cara no muro como com a cara na morte.

Não se supera a morte, Sexton, não se supera:
apenas se entrega
ou espera.

domingo, 13 de novembro de 2011

sábado, 12 de novembro de 2011

sh

e agora
que o silêncio se ocupa
de ocupar todo o quarto
que faço?

como preencho
com desembaraço
o oco no peito
o vazio do espaço?

que devo eu
agora sentir
se não sinto nada
e estou bem assim?

pra que tão pensar?

não há pesar que se encontre
nas bandas de cá

e agora o silêncio

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

dímelo


o rio some na bruma da manhã
meu coração de outono acorda triste

escreveria um blues, soneto
ardente, escreveria a dor com pena em riste

mas ouço um funk agora
e como quem dança moonwalk
a tristeza vai-se embora

quarta-feira, 9 de novembro de 2011


confrontado por quem ignorava a dimensão que aquilo assumia,
sorria um sorriso sincero como quem diz: que pateta.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

a little bit


um pouco de desaponta
mento
não nos faz mais feliz
a menos que sejamos um
lápis
ou algo assim

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

em resumo


a história começa assim:
quando deu por si
já era o fim.
em minha ingenuidade
pensei que sim
mas o que é que eu sei?

domingo, 6 de novembro de 2011

de moleque

a primeira vez que ouvi
de uma mulher
"vem, meu bem,
faça amor comigo, vem"
foi o horror

ouvi num filme pornô

sábado, 5 de novembro de 2011

D'eus

"Por que eu?
Meu Deus, caralho!
Por que eu, por quê comigo?"

dizia o homem ao canto
dizia o homem aflito

e no mundo eram tantos cantos
tantos homens gritando a deus
que o Deus, lá do alto santo,
lamentava seu "Por que eu?"

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

há dias

te conhecer
foi um dos pontos
altos de minha noite

o outro foi chutar
com toda a força
a quina do guarda-roupa

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

lain

chove aqui dentro
e lá fora chove

o frio da calçada de pedra
empedra de frio os meus pés

olhando pela janela
o café da esquina de casa
se enche de gente
e fumaça

cigarros iluminam os rostos velhos
ao pé do café em minha rua
e aqui dentro chove
uma puta chuva