terça-feira, 28 de maio de 2013

Eu queria ser egoísta e a culpar por todo erro, malentendido, por todo o sofrido pesar e lamento agônico por isso tudo que me deixa afônico e sem sentido algum. Queria pensar nisso, queria xingar, queria até bater - mas não matar - queria jogar pela janela a ela, a mim, a porra toda, queria estar na sombra quando o sol queimasse o céu. Mas difícil, bem difícil, quando sei que quem errou fui eu, mesmo que ela, que quem pensou penou pendeu foi tudo eu, que ela era eu, mas eu não ela. Autoconhecimento é uma via de mão dupla, mas uma das pistas foi fechada por causa da chuva forte. A outra, congestionada.

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liberdade é uma faca
de um só gume
apontada pra cara
de quem a porta
liberdade boa é morta

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é tudo ritmo
e rimos
ao saber que o outro dança
sem saber

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a eternidade se estende no meu peito
e não se entende nada ao ver da borda

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sou um grande escritor brasileiro do século XXII
considerando que eu chegue lá escritor, não só escrito
se em 2101 eu estiver vivo
sou um grande escritor brasileiro do século XXII

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o motorista não desviou
bode na estrada
just a road tripa

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eu queria ser a pessoa certa
pra toda pessoa precisada de alguém

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os que veem só o mal talvez estejam malpostos, talvez amarrados ao lado errado. Talvez das sombras, olhando as sombras, a sombra pareça maior. Os pequenos, os da margem, os de baixo, os que não se agarram ao píer à beira ao porto, estes talvez vejam mais, vejam bem, veja bem, vejam o bem. A margem à margem estoura, a história sempre mostrou, a estória sempre repete. A margem não marginaliza, na margem não há marginais. O mundo do bem é por baixo dos panos. O homem de bem é o espelho do mal.

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só vocês para me fazerem
ver
que eu estou errado

por isso vos olho sempre
por isso vejo
dentro de vós
e
sei
que não estou só

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poesia não é alma
não é coração
não é o sentido
poesia é ouvido
que nem música
é ritmo
pode até vir pelo surdo bater
do intestino
não importa

não é o que conta que conta
o que conta é como se apresenta a porta

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a gente tudo fala muito da morte
mas na hora da morte ninguém fala nada

é engraçado
mesmo que trágico
: a gente se prepara tudo pra uma coisa que, pronto ou não
lá vou eu

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inguinorante é aquele que não quiz aprender e, aprendendo, quis ignorar que mudar é a essência.

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esteja a favor da mudança
ou contra
ela vai e vem e muda
sempre
então não teime

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eu queria te amar mais do que amei
até que o amor transbordasse
e em mim não ficasse mais
que o suficiente

eu queria ter-te amado tanto
que o transbordar desse baú de espantos
cobrisse de tesouro teus longos vazios escuros
pequenas peças de ouro imaginário
rodelas de plástico vermelho que me lembrassem as espoletas de minha arminha de brinquedo

eu queria ter te amado mais
mas tenho medo
de te amar demais

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anota a nostalgia
na nota de um real

ela não existe mais
serve pra nada

e vale pouco
sempre valeu

não acredite no cartão de crédito
nem no vil metal

de vilezas somos cheios
mesmo sem dinheiro

amasse o cheque
assuste o tempo

viva de escambo

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você me faz
falta
zagueiro filhodaputa

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bateu-me a realidade
dura tal qual parede
tijolos estrelas se entremisturam
na rua
enquanto-com sede-eu olho pra lua acima de mim

assim
se faz
assim
se apaga

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há quem tenha sido
nascido para amar
u'a puta analfabeta
em quem todo cometa
palavra e asteróide
estão postos no corpo
calado de poeta
sem letra rima ou fogo

há quem ame e pronto

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quando ela foi
tirou de mim as palavras
uma a uma
e todas juntas
nem dei por mim quando fiquei
assim
calado

agora
mesmo passado
não tenho a verve que já tive
nem tenho a pena de outrora
-a pena agora é outra
é pena de mim pra fora
é como se fosse
ave-
agora já não escrevo já nem respondo
já nem sorrio mais como antes

sou duas asas tentando alçar voo
num morro
do qual me atiraram

ave evoé ave
voar é como andar de
bicicleta
não se esquece
ou se esborracha

não seja uma marca no asfalto
seu pato

domingo, 26 de maio de 2013

anotações para um catatau que nunca virá

escrito, um fluxo de consciência há de ter páginas e páginas em branco, entrecortadas quiçá por uma buzina, grito ou passarinho. Mesmo atolada todo o tempo, a mente se compraz em pensamentos aleatórios e desconexos, em imagens sons nem sempre palavra ou sentimento. Um fluxo de consciência verdadeiro, se escrito, deve deixar o leitor sem saber no que pensou, ao fechar o livro. O que importa no fluxo é o momento em que ele para e a realidade volta. A contracapa.

sexta-feira, 24 de maio de 2013


um casal de abacateiros
caminha pela cidade
em ruas por onde arde
a chama de mil letreiros

te vejo como uma peça literária
diz ele à abacate
em que cada de suas partes
são como incêndio inteiro
são plumas de cem poleiros
em que o corvo choca a tarde

te enxergo tal lusco-fusco
diz ela ao abacateiro
teu brilho firme e confuso
teu samba de um sem terreiro
e as velas que acendem noite
acendem planeta inteiro

dois abacateiros
repletos de polpa e sumo
caminham por entre a noite
verdes, amigos, juntos
e nada mais faz sentido
que não esteja contido
no sonho de brotar frutos


quinta-feira, 23 de maio de 2013

a dor dói
a vida
é outro verbo

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de volta
com pés inchados
sem ter sabido dos outros muito
não perdi nada

talvez angústia
um tanto de aflição
talvez a dúvida sobre a condição que em mim pesava

com pés inchados não perdi nada

---

minha cabeça
é a torre de babel
depois da queda

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ela me ensinou tanto
mas teve medo de aprender comigo
a única coisa que eu podia ensinar:que
ela me ensinou tanto

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teve um dia em que vi um bode
balindo na rua cedo bem logo de manhãzinha
já teve uma poesia dizendo assim

manhã na minha rua
um bode bale
um raio cai

mas agora a imagem se mistura com u'a noz que eu comi, por puro acaso
no meio do almoço zen monástico
tempos atrás
era uma só, nenhuma a mais
uma só noz
e o sabor seu som era o balido o bode a manhã chuvosa e o buda gordo sorrindo a mim lá no refeitório

todo dia é um oratório, mas nem sempre sei
faz bem falta dizer amém, eu vos digo
em verdade
meus pés acompanham ritmo da idade minha
pelas frestas e vielas das ruas das janelas das cidades e das praias que avizinham
minha vida
que só passa
que só passa
que só passa
mas que antes de passar de uma vez
vai caminhar

---

o maior arcoíris que já
vi
pés correndo
chuva sobre
tempo indo

sexta-feira, 17 de maio de 2013


se deus me livrasse de tudo que peço
o mundo estaria do avesso

pequeno exercício de ficção científica


Comunicado urgente: o Excelentíssimo Faraó Amininotep II faz saber, pelos canais públicos e ubíquos, que sua chegada ao novo complexo mortuário Javaistar, na zona central da Cidade Sol, será atrasada em algumas horas devido ao transbordamento do Rio Nilo.

"O rio nos surpreendeu, este ano, e avassalou nosso planejamento urbano de modo que não encontramos alternativas a não ser, em um momento posterior, construir um novo complexo mortuário, dessa vez de baixo custo. [...] Recuso-me a responder essa alegação de que nós não teríamos compreendido, até hoje, o ciclo de cheias do rio. Isso é sensacionalismo e não corroboramos com sensacionalismo!", disse, em exclusiva, o Assistente para Assuntos Arcaicos do Ministério do Interior, Nhô Tep.

Correspondente trans-temporal direto do Egito Antigo, Jairo Márcio, se despede. Fiquem agora com futebol.

cena vulgar

Há quanto tempo foi? Um ano, dois? Talvez um mês? Ou mais? Por que o buraco que ficou ainda afunda, por que escorre nas paredes do escuro interior a mesma gosma? O que é isso que afoga e tira o ar? Ao que suspende, por qual pedaço do corpo? A mente? Eu não estou voltando, ela disse, e não estava. Lembrei de ouvir eu estou grávida, enquanto as duas mãos lavavam pratos. Mas não estava. Grávida. As minhas mãos molhadas sim, lavavam louça, sabão de casca de laranja. Lembro que sorri, que ela sorriu, lembro que pensei puta que pariu!, grávida. Não há melhor mãe para um filho meu, pra filho nenhum. Cheiro de laranja, água morna, neve fora, por um breve momento pensarmos filho, pensarmos vida, pensarmos casa. Ela não está voltando, ouvi mais alguém falar, e quando dei por mim era eu mesmo a voz. A casca de laranja do passado me faz chorar, olho irritado, olho irritado. Não sei que passa comigo agora, neva lá fora em algum lugar, mas não é aqui, nem nesse país. A água morna sou eu por dentro, a louça suja se empilha entulha o apartamento. O cão me rosna, a mesma gosma ainda escorre. Um mês ou dois atrás, não mais. Mas sinto o infernizar da paz que se escoa pelo ralo, entre restos de futuro e sabão caseiro líquido a gotejar.
não posso
pensar
em te
per
dizia a água caindo
lenta e pouco a pouco
por sobre a louça empilhada

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criei pontes de água benta
pros teus pés passarem
e agora estou
sozinho

teus pés até tentaram
mas se incendiaram
no meio do caminho

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vocês se preocupam
co'as coisas erradas
e eu me preocupo
com vocês

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não sabemos nomear nossa inconstância
o sono que se estende de manhã
nos faltam palavra, paz, pensamento
certo
somos comentários que não fecham

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não é a vida que faz poesia
poesia são palavras
tenha uma vida boa, terás uma vida
boa
tenha palavras boas, terás(assim se
espera)boa poesia

uma coisa ajuda a outra,mas ambas não são só uma
vivavida depoisescreva
ou viceversa
mas não se atrele
que eu não me atrelo
e nem dê trela
ao amarelo

terça-feira, 14 de maio de 2013

ônibus 54 sentido terminal, cena banal

Pessoas fazendo festa, dando carinho, pessoas na rua brincando com cachorrinhos, afagando o pêlo e o focinho. Despudoradas. Pessoas não ligam nada pra intimidades, pra atenção, ser carinhoso com animais no meio do povo, ali no povão, numa encruzilhada, entre saída e chegada do trem.

Pensei bem. Tentei. Humanos demonstram afeto claro, aberto e largo, afeto mesmo descontrolado, em praça pública, olhos dos outros. Para cachorros, para animais.

De um humano pra outro, mesmo por sob o pano, mesmo fechado em casa, às vezes nada. Não somos carinhosos conosco. Talvez seja o preço pra não latir. Se bem que.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

"E se o fim não for esse?", perguntou assim um tanto desesperado. Ninguém, no entretanto, esperara pra responder.

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só quando não
me penso
não canso eu
de mim

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não tenha medo de errar
porque(como dizem)quem não erra
não acerta
mas se lamentar o erro
(no caso de, claro, errar)
não vai ser com a coisa certa
que estará se importando.

importante é errar, não o acerto
importante é alegrar no erro

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traduzir uma flor que só existe pra lá
num outro hemisfério, distante, branca em pequenos arbustos, florida ao verão

sei não

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mês que vem
que vem
preste atenção no som
sentido
nisso

mês que vem
não nós que vai
mês que vem
"lá vem o vento correndo
montado no seu cavalo"

ah, jorgedelima, nunca me fez tão
sentido
quanto agora, que é o mês que vem

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mãe
desculpa por eu não ser
um filho perfeito(por mais que
por ser minha mãe
esse seja teu pensamento)

desculpa não saber fazer o bem tanto quanto
eu queria
(eu juro que eu queria,eu
quero)
desculpa achar que tenho
que pedir desculpas
por não ser ao certo o que eu devia
ser

eu tento todo dia ser melhor,
pra todo mundo,e isso é
porque
eu comecei aprendendo ao te ver
desde pequeno

mas eu acho que não consigo(nem
nunca vou ser,eu,mãe)
desculpa
por estar longe e ser longe
por não entender nada da vida
e achar que quem não entende é tu
(e o pai,também.eu sempre acho)

é meu pedaço de filho que vem e faz isso
me faz duvidar de tudo e errar
mesmo tentando o melhor
mesmo tentando
o tempo todo
acertar

eu te amo,mas não só
nesse dia
embora eu talvez nem te fale,assim
tanto

obrigado por nunca deixar de ser
minha mãe

sábado, 11 de maio de 2013


Nela,é claro
é nela que estou pensando
ela,sempre ela
o tempo todo ela

não há nada que dela não venha
não há nada que não venha dela

ela é memória eterna
tempos de insônia,café da noite
pijama e sombra
claro que penso nela,só ela é


escorrer do tempo,tristeza reprimida
silêncio contido ou não
ela é a salvação
e perdição primeira

é dela que venho e vou
por ela pra ela vamos
por ela que aqui estamos
queremos ficar e não

agora,o -quem é ela?-
já é pergunta do avesso
avessa a resposta e pensar

ela que é minha morte
que é vida,tempo,guarida
ela é mulher que busco
é derradeira partida

---

todo lugar é lá
pralgum aqui

---

responsabilidade é saber que sua liberdade não é
sua

---

por dentro tudo entranha

---

a má vontade não pensa
não sente
nada

---

garanto que sou grato
sei que é besta, mas basta

---

ensona-me
a prender

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- Acordaste trocadarilho?
- Nem dormi, meu filho.

---

pô, ética!
faz um verso certo
faz favor

---

- Manda, mô.
-Mandala, ei.
...
- Hein, viado.

---

apenas quem sabe chover
é sereno

você disse,bela
que não era preciso assim ser tão feliz
não era assim pra tudo isso
você disse,ela
disse
eu ouvi
e então não fui

você disse-desfaça essa felici
dade-espantando as moscas do sorriso
você disse e depois disso
tinha mais nada a ser dito

Canção toada de vão Winkle



o mundo calou

viu-se (dizem)
no pé daquela árvore um tronco meio morto
pesado e duro
um tronco escuro em forma de homem

quando chegou lá (chegou aqui)
o primeiro viajante domador
de incertezas
dizem (vi)
que em meio à natureza exuberante já havia
este corpo adormecido
esse homem
a raiz de uma(essa) árvore
ali

passou o tempo, um ano e dois
passaram furacões e a construção
de uma cidade
passou verdade, ergueu-se ao céu
para arranhar
a desmesura do cartel de Gibraltar
e nem assim moveu raiz

(embora a árvore crescesse,
e desse flores.
embora a árvore
ficando
fizesse amores ir e vir,
vir e voltar)

Cidade amurada,
velas ao vento no deserto verde vivo,
cidade ao mar dos pensamentos
das caravanas
e dos camelos que perdiam direção
(eu vi)

Cidade joia da coroa do Deus Terra,
(dizem)esta.
Lembrança ao pé de uma raiz
caramanchão
de um homem que dormiu(dizem,vi)
há muito, muito
e hibernou
(durante toda nossa quádrupla estação)

Agora vá, venha, veja
olhemos nós dois aquela árvore
raiz acesa,tronco entalhado
(te'amo princesa, é o que diz
no centro certo do coração
feito a faca
antes da guerra)
Venha, venha, veja
que não há nem nunca houve
(nem haverá, dizem)
outra ramagem igual àquela
de flores brancas e calma noite
aos pés de onde dormiu um homem
antes mesmo da flor nascer.

Veja,
não há mais homem
e a cidade agora(dizem
vi)
só se decai.

quinta-feira, 9 de maio de 2013


a morte é uma moça
solitária
por isso nos acossa
pela estrada

quarta-feira, 8 de maio de 2013


vida
vasto cemitério
de fogos-fatos

somos todos
um e cada
buracos infindos sem fundo
e o que passa
é tentarmos encher com memória
com vitória ou com cachaça
o poço que nunca transborda

eu sinto a
falta

segunda-feira, 6 de maio de 2013

não sou só o que faço
eu sou o que fiz
este


quando tua
minha
primeiranamorada casa
não com você
comigo
mas com um outro cabra

mesmo porque
insisto
foi a primeiranamorada
o que somen' quer dizer
namoradinha

e você continua aqui
eu
do meio pro fim da linha
esperando alguém te dizer
me
que também gostaria de ser
mulher da tua vida
da minha vida inteirinha

dá uma comoção
que nem sei qual o sentido
sabe?
não sei se era cachaça
ou somente estupidez
a batucada é o coração
das coisas

todo pulsar é uma estrela

"pois só quem ama pode ter ouvido"

e só no samba o pulso tem sentido
tempo de ruptura
tempo, dê
os pássaros lá fora
silenciaram meu poema

não há melhor canto para saudar o sol
do que essas penas
tudo vem
do passado
a vida não rima comigo
por isso é que seu sentido
está pelo corpo disperso

a vida se estira no verso
e não põe por sobre ninguém
os mantos vestais de protesto

de casto metrismo ou de certa
composição

a vida se faz em canção
e nem sempre o último tom
é o certo

a vida não rima comigo
porque bem no fim ela vai
certeza certeza que vai
me deixar pra trás e sorrindo

a rima é a vida quem faz

quinta-feira, 2 de maio de 2013


- Cara... tem algo muito errado com esse lado do horizonte.

- E é? Tô vendo nada, não.

- Aqui, rapaz. Desse ângulo, de onde olho, vê? Tem um pedaço ausente, tipo um buraco seguindo daqui até a curva da bolota.

- Do planeta?

- É, ali onde o barco faz a curva. Saca só.

...

- É, é, tens razão. Tô vendo ali o gaiato acenar com a mão antes de, ei!, epa, peraí. Sumiu. O bicho sumiu, no meio da acenatura.

- Hoje em dia ninguém mais vira horizonte, criatura, eu bem te disse. Tem algo errado no espaço de lá pra cá. Quando a gente vai ver de acertar o passo, pimba!, trupica e se encharca inteiro.

- É banho de chuva, é banho de lágrima, é banho de cheiro. Banho de mar, perfume, sal grosso, cuspe, mijo, incenso, guá benta, papel picado, arroz, lantejoula, confete, serpentina, a porra toda. A gente tá nesse mundo é pra se molhar, tem jeito não.

- Tempo não escorre que nem melaço, bicho. Tempo vem é de balde, tudo logo de uma vez, com força d'água e peso. Tempo vem de catarata. Mas é sacana. Vem catarata de balde, molha nós com o tempo d'água, mas depois tomamos com a lata ainda no coco. Tempo é um troço muito louco.

olha o escuro azul das profundezas
olha a beleza a mesa posta e aquele pequeno pedaço
de bosta
que te assucedeu

olha eu
que no meio do caminho, indo ao lado
pisei errado e caí fora
da estrada

olha o céu que não tem nada núve alguma
olha a pluma da bandeira desfolhada
ave rara que gorjeia garaúna

olha em frente
evita dar com o nariz e os dente
naquela parede

nesta.

quarta-feira, 1 de maio de 2013


viva àqueles que nos quebram perspectivas, arrogâncias, preconceitos
viva àqueles que fazem isso sendo pessoas do mais fino jeito

viva à beleza da compreensão
e à beleza

"viva eu que inauguro no mundo o estado de bagunça transcendente", murilomendes
tudo é ritmo na rotina do poeta

a vida é dança
e a alma é festa

o mundo é música no formato de uma bola
de pedra

estamos no espaço, soltos
e olhando para os lados só vejo os outros

temos primeiro amanhã
desdobrando-se em folhas claras
em um sol que sequer despontou
em um ponto distante para
o qual nenhum dia raiou

ainda
porque temos amanhã primeiro
e só depois da manhã
o futuro verá seu desterro