- Cara... tem algo muito errado com esse lado do horizonte.
- E é? Tô vendo nada, não.
- Aqui, rapaz. Desse ângulo, de onde olho, vê? Tem um pedaço ausente, tipo um buraco seguindo daqui até a curva da bolota.
- Do planeta?
- É, ali onde o barco faz a curva. Saca só.
...
- É, é, tens razão. Tô vendo ali o gaiato acenar com a mão antes de, ei!, epa, peraí. Sumiu. O bicho sumiu, no meio da acenatura.
- Hoje em dia ninguém mais vira horizonte, criatura, eu bem te disse. Tem algo errado no espaço de lá pra cá. Quando a gente vai ver de acertar o passo, pimba!, trupica e se encharca inteiro.
- É banho de chuva, é banho de lágrima, é banho de cheiro. Banho de mar, perfume, sal grosso, cuspe, mijo, incenso, guá benta, papel picado, arroz, lantejoula, confete, serpentina, a porra toda. A gente tá nesse mundo é pra se molhar, tem jeito não.
- Tempo não escorre que nem melaço, bicho. Tempo vem é de balde, tudo logo de uma vez, com força d'água e peso. Tempo vem de catarata. Mas é sacana. Vem catarata de balde, molha nós com o tempo d'água, mas depois tomamos com a lata ainda no coco. Tempo é um troço muito louco.
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