sexta-feira, 29 de abril de 2011

cenas banais

alguém na fila do banco cheirava a frango com curry. Do outro lado, cheiro de couro com suor de capacete. Parecia Mad Max indiano, aquela fila. Olhando pro fundo do banco, paredes remendadas com demão de argamassa faziam-me pensar que um assalto cinematográfico nunca poderia acontecer ali. seria ridículo, se rolasse. Sentia mais próximo de estar no Iraque do que qualquer outro lugar.

Olhando bem de perto, as pessoas são horríveis. Somos, sem medo de afirmar, uma das espécies mais feias do planeta. Notem bem, qualquer outro mamífero parece mais simpático. Nunca vi um bicho de pelúcia com cara de humano. Isso deve significar alguma coisa.

Na volta, o gosto do palito de sorvete do sorvete coreano me lembrou de pediatras examinando a garganta.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

um homem com uma flor
caminha através do mundo
crianças
correndo aos gritos
caminham por entre flores
que bela cena
fresca e bela
é observar, da janela,
esse eterno caminhar.
gritos de crianças
purezas de crianças
e flores a passar

quarta-feira, 27 de abril de 2011

altar de ater o tempo

é assim que ele domina o tempo -
num altar de flores
podrecentes.
com flores a morrer é que ele
diariamente
oferenda ao velho tempo que lhe passa
sua graça
e danação;
num altar de flores que apodrecem.

Uma série de deuses

ou Adeuses de sereias

há coisas que
a teus olhos
ainda não brotaram.
uma série de deuses
de crenças
de revelações.
Há coisas que ateus
não vêem.
mas há tempos que crêem,
ateus ou não,
em sinais, em contatos
imediatos
há tempos que a água
com seus sais
- de suor
ou de lágrimas -
há tempos que as vagas
tuas ondas
batem em meu cais.
E isso, amor,
teus olhos já notaram.
Há, apenas o medo de aportar.

terça-feira, 26 de abril de 2011

não sei se há verão


não sei se há verão
de onde vocês vêm
não sei
só sei que, donde venho,
há um vento verso e vário
que, soprando em tais horários,
traz a chuva, o amor
e mais.
não sei se haverás
de saber por onde corro
não sei se ouvirão meus pedidos de socorro,
meus ais...
não sei se atenderão a porta
à campainha,
para abrir a uma visita ilustre
e esperada.
É claro que não sei de nada!
quem saberá?
não sei se há verão pra onde tu caminhas
mas leva minha voz
meus olhos
e esta lanterninha pra iluminar toda tua escuridão.

parole, parole, parole

quando eu digo morte, pensas perda
quando digo amor, pensas paixão
quando falo vôo, avião
quando eu tragédia, pensas merda!

às ideias se dão sentidos vários
as palavras são fogos de artifício
as pessoas são maus incendiários

segunda-feira, 25 de abril de 2011

oração a Nossa Senhora dos Portais, a guardiã do óbvio caminho


Nossa Senhora dos Portais
vivei
e vinde a nós, mortais.
Nossa Senhora,
crêde
que damos a vós nossas horas
e sêdes.
Nossa Senhora dos Portais
dai a mim a chave-mestra,
a tetra
e o umbral.
Protegei-nos do mal, Nossa Senhora do eterno trespassar.
Valei-me, Nossa Senhora,
Nossa Senhora dos Portais
e permita que eu, agora,
entre.
Permita, Nossa Senhora.

agora, 02/11/2008