da utilidade

como prova de amor

dou-te uma buquê de couve-flor

assim,

quando acabar nosso romance

terás já algo pro lanche

de aquino

o sexo dos anjos

é quando deus não tá olhando

marx

opinião é o ópio

do anão

descartável

penso, logo existo

mas eu mesmo não ligo

aerolitos

a estrela cadente cadeu

e olhando pro céu distraídos

nem ela nem eu, afinal

fizemos pedidos

a ideologia do folclore

existe um mundo imenso

lá do lado de fora

traga-o pra dentro

lá fora faz sereno

e ele pode gripar

run

ele

vendo-a olhar fundo em seus olhos,

somente ela era o que via

nesta semana

não escreverei

vivais vós as vidas

de vocês

na morada do sol

Oh!, Sylvia... sim,
Sylvia, porque é o que todos dizem
ao dizer
de ti
e deles.

Sylvia, defunta, passada, antiga. Eras morta já três vezes quando eu sequer nascera
e, veja!, eu nasci.
Nunca fui um judeu, nunca queimaram meus dedos
- exceto eu, com fogos de sãojoão -
nunca senti na carne a lâmina de um outro porque
ora
porque quando o outro chora eu me vou
e passo
e tudo passa
- ainda que eu me lembre bem daquela vez em que
por eu ter ido
ela quis passar foi dessa pra melhor...

Não sou responsável pelo suicídio
nem de mim, nem dos outros.
Não sou responsável por nada, por nada, nem mesmo pelo cachorro morto
de fome que me lambe os pés.

A vida não me assusta, Sylvia,
e nem é uma puta que sento em meu colo e venho a achar amarga...
A vida não é nada
porque a morte também não.

Num tempo futuro, que já passou,
num tempo futuro eu vi a morte
de perto, tão perto, que não deu pra fugir.
Mas não a procurei: apenas vi
como quem vê um vulto ao dobrar a esquina e
poste!
Dá-se com a cara no muro como com a cara na morte.

Não se supera a morte, Sexton, não se supera:
apenas se entrega
ou espera.

frutos secos

eu gosto de nozes mas

você

não gosta de mim

sh

e agora

que o silêncio se ocupa

de ocupar todo o quarto

que faço?

como preencho

com desembaraço

o oco no peito

o vazio do espaço?

que devo eu

agora sentir

se não sinto nada

e estou bem assim?

pra que tão pensar?

não há pesar que se encontre

nas bandas de cá

e agora o silêncio

dímelo

o rio some na bruma da manhã

meu coração de outono acorda triste

escreveria um blues, soneto

ardente, escreveria a dor com pena em riste

mas ouço um funk agora

e como quem dança moonwalk

a tristeza vai-se embora

confrontado por quem ignorava a dimensão que aquilo assumia,
sorria um sorriso sincero como quem diz: que pateta.

a little bit

um pouco de desaponta

mento

não nos faz mais feliz

a menos que sejamos um

lápis

ou algo assim

em resumo

a história começa assim:

quando deu por si

já era o fim.

em minha ingenuidade

pensei que sim

mas o que é que eu sei?

de moleque

a primeira vez que ouvi

de uma mulher

"vem, meu bem,

faça amor comigo, vem"

foi o horror

ouvi num filme pornô

D'eus

"Por que eu?

Meu Deus, caralho!

Por que eu, por quê comigo?"

dizia o homem ao canto

dizia o homem aflito

e no mundo eram tantos cantos

tantos homens gritando a deus

que o Deus, lá do alto santo,

lamentava seu "Por que eu?"

há dias

te conhecer

foi um dos pontos

altos de minha noite

o outro foi chutar

com toda a força

a quina do guarda-roupa

lain

chove aqui dentro

e lá fora chove

o frio da calçada de pedra

empedra de frio os meus pés

olhando pela janela

o café da esquina de casa

se enche de gente

e fumaça

cigarros iluminam os rostos velhos

ao pé do café em minha rua

e aqui dentro chove

uma puta chuva