segunda-feira, 23 de abril de 2012

paranormal


A sala estava escura quando entraram, tal qual o corredor. O cheiro de carniça empesteava o ambiente. Pedro pôs o pé pra dentro do primeiro quarto escuro e gritou. Jonas parecia ter caído.

- Você está bem?

- Não.

Jonas levantava aos poucos, tentando ser ligeiro. Só Pedro estava armado, porque o parceiro tinha nas mãos um corpo magro de um menino morto. Ou quase morto, ainda não sabiam. O ambiente estava mesmo muito escuro.

- Escuta, Jonas, como diabos esse menino foi parar nas tuas mãos?

- Não sei, cara, já disse. O corredor estava escuro e cheio de gente. "Gente", tu entendeu. Ele foi o único que não tentou me morder, então acho que não era assim tão mau. Digo, ele até tentou falar algo.

- "Atire na cabeça". Parece a porra de uma história de terror.

- Atire na cabeça, pois é. Por isso eu te falei. Atire na cabeça.

Do fundo do corredor que parecia levar à saída um par de brilhos vermelhos piscou um momento ou dois. Depois gritou, piscou de novo e correu. Pedro estava com a arma apontada pro meio dos dois pedaços de luz acesa, mas Jonas estava mais preocupado com a miríade de olhos de gato que começava a virar a esquina. O corredor tinha agora diversos olhos vermelhos piscantes, mas nem todos corriam. Só alguns vinham por vez, gritando e gemendo, enquanto o segundo grupo esperava de olhos abertos, atrás. Eram organizados, os filhos da puta.

- Zumbis não existem, cara.

- Não. Mas desde que descobrimos que um tiro no meio da testa - bang! - também mata vampiro, lobisomem, fantasma e a porra toda, por que eu desperdiçaria balas atirando no peito ou pernas? Zumbis podem não existir - bang! - mas deram uma boa educação balística pra nossa geração.

Os tiros ecoavam, certeiros. Agora até Jonas brincava de mate-o-pato, mesmo que não houvesse nenhum urso de pelúcia a levar de prêmio.

A horda caiu. Poucas balas restavam. Pedro, sorrindo, disse quase como um cumprimento: "atire na cabeça".

Quando abriram a porta, no terror escuro da madrugada, uma manada de mulas-sem-cabeça os esperava.

- Fodeu!

E eles correram.

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