As portas estavam fechadas. Lá dentro, todo mundo sabia, se escolheria o futuro algoz de uma nação.
O primeiro cidadão, inconformado, abriu a porta e declarou "aqui é meu, também. Casa pública, não permito absurdo a portas fechadas". Foi preso na hora.
As portas continuaram fechadas. Um segundo cidadão, vendo o ocorrido, a prisão, entrou também no salão: "Não! Não, vocês não vão. O país não é a casa de praia de vossas senhorias". Também foi pra cadeia.
Portas fechadas. Terceiro cidadão irrompeu, dizendo pra que parassem. Aquilo era um absurdo. Não se faz coisa velada em uma democracia. "O país não é a casa de vossa tia". Preso.
E assim foi, um depois do outro, uma depois da outra, um- depois d- outr-, tudo todos presos todas até as crianças que resolveram falar. E as portas teimavam em fechar.
Cada um que abria as portas sabia que seria preso. Que não teria muita luz no outro dia. Que, talvez, acabasse a vida ali, naquela hora. Mas quê fazer? Daria pra continuar, cuidando da própria vida pequena, quando deixasse a vida grande virar um circo, um problema?
Cada pessoa que entrava, falava um pouco e era presa. Sob acusações quaisquer, aleatórias, ninguém ligava. O importante era a porta fechada.
Mas quando as portas se abriram por dentro, com o coluio feito, perceberam que do lado de fora, no país todo, haviam sobrado poucos.
A cada entrada na porta as pessoas sentiam, talvez pela primeira vez na vida, que elas próprias valiam menos que o todo. Quando as portas se abriram por dentro, o país estava era preso.
Mas, ah!, quanta felicidade se reunia naquela festa de presos, destituídos de tudo, sobre a qual não importava reuniões a portas fechadas...
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