segunda-feira, 25 de junho de 2018

Mar de Viração: crônicas de uma ficção, parte I


Agora que teremos Mar de Viração publicado pela Editora Moinhos, ao que tudo indica antes de dezembro de 2018, pensei poder falar um pouco desse livro. Pra mim mesmo, ao menos, se as crônicas dessa escrita não interessarem a mais ninguém.
De partida, defina-se o que é o Mar: três conjuntos de histórias, escritas em momentos diferentes, mas na sequência de meses entre fim de 2013 e fim de 2014. “Naufrágio do Aqueronte”, “terra húmyda” e “Santos'agrados” são seus nomes.

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Foto: Thomas Kodaky
O Naufrágio foi inicialmente publicado como folhetim, e embora possa ser conto eu a considero uma novela. Mas talvez seja um romance em forma de bonsai. Não sei, deixo aos críticos e teóricos literários do hipotético futuro, pois eu mesmo já larguei minhas credenciais de teórico há algum tempo.
Naufrágio do Aqueronte é uma história que contém outras histórias dentro, mas poucas, pinceladas, contadas por personagens nos entreatos da grande história, desse naufrágio. A primeira cena é Margarida, uma menina, olhando o molhe e as águas molhando suas pedras, antes de embarcar no navio. E é no navio que se passa praticamente toda a história. Afinal, se naufrágio...
Em tempo: Daniela Delias, poetíssima, usou o começo do Naufrágio como uma das epígrafes de seu ótimo “Nunca Estivemos em Ítaca”, saído há alguns anos pela Editora Patuá.

Já terra húmyda nunca foi publicada, e o pouco que se sabe desse livro, isso sim uma novela, mas também contação de estórias, apareceu numa nota de jornal. Em 2013, fim de ano, o pernambucano Jornal do Commercio pediu a escritores que comentassem o ano literário, em retrospectiva. Micheliny Verunschk, que dispensa apresentações, assim apresentou a história: “Acompanhei, recentemente, a escrita vertiginosa da novela "terra húmyda", de Leandro Durazzo, autor radicado em Santos, SP, e ainda inédito em livro. Sem dúvida, uma das melhores coisas que li nos últimos tempos.”
Em 2013 eu passava alguns meses em Santos, terra natal. Dali “terra húmyda”, portanto: novela que conta de andanças, casas, matas, buscas e quebras – de expectativas, de esperanças, mas também de ilusões. E, vejam, se há algo de que me convenço é isto: ilusões quebradas são mais saudáveis que quaisquer outras.

Santos'agrados começa pelo título, embora o título tenha surgido apenas depois dos solilóquios escritos: é passagem rapidíssima de um texto enorme, “Os morcegos estão comendo os mamãos maduros”, do experimental Gramiro de Matos (ou Gramirão, ão, ão). Nele – Santos'agrados, não Os morcegos... – ouvimos vozes. Três personagens velhos sábios cansados velhos, um pouco santificados, bastante não, contam histórias e soliloquam. Um vendedor de peixes, um vendedor de mate, um santo canonizado. Não são as histórias que importam, nos solilóquios, embora cada fragmento de conto seja um romance inteiro, até onde sabemos. O que importa mesmo são as vozes, a audiência, a escuta e sobretudo o silêncio que permeia tudo.

Amanhã, talvez depois, talvez jamais, seguiremos nestas crônicas sobre o processo que é Mar de Viração. Feito onda, a ir e vir, bater e rebater, coar e ecoar.


Aproveitem o ensejo para acompanhar a Editora Moinhos:

https://editoramoinhos.com.br/

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