Agora que teremos Mar de Viração publicado pela Editora Moinhos, ao
que tudo indica antes de dezembro de 2018, pensei poder falar um
pouco desse livro. Pra mim mesmo, ao menos, se as crônicas dessa
escrita não interessarem a mais ninguém.
De partida, defina-se o que é o Mar: três conjuntos de histórias,
escritas em momentos diferentes, mas na sequência de meses entre fim
de 2013 e fim de 2014. “Naufrágio do Aqueronte”, “terra
húmyda” e “Santos'agrados” são seus nomes.
Foto: Thomas Kodaky |
Naufrágio do Aqueronte é uma história que contém outras
histórias dentro, mas poucas, pinceladas, contadas por personagens
nos entreatos da grande história, desse naufrágio. A primeira cena
é Margarida, uma menina, olhando o molhe e as águas molhando suas
pedras, antes de embarcar no navio. E é no navio que se passa
praticamente toda a história. Afinal, se naufrágio...
Em tempo: Daniela Delias, poetíssima, usou o começo do Naufrágio
como uma das epígrafes de seu ótimo “Nunca Estivemos em Ítaca”,
saído há alguns anos pela Editora Patuá.
Já terra húmyda nunca foi publicada, e o pouco que se sabe desse
livro, isso sim uma novela, mas também contação de estórias,
apareceu numa nota de jornal. Em 2013, fim de ano, o pernambucano
Jornal do Commercio pediu a escritores que comentassem o ano
literário, em retrospectiva. Micheliny Verunschk, que dispensa
apresentações, assim apresentou a história: “Acompanhei,
recentemente, a escrita vertiginosa da novela "terra húmyda",
de Leandro Durazzo, autor radicado em Santos, SP, e ainda inédito em
livro. Sem dúvida, uma das melhores coisas que li nos últimos
tempos.”
Em 2013 eu passava alguns meses em Santos, terra natal. Dali “terra
húmyda”, portanto: novela que conta de andanças, casas, matas,
buscas e quebras – de expectativas, de esperanças, mas também de
ilusões. E, vejam, se há algo de que me convenço é isto: ilusões
quebradas são mais saudáveis que quaisquer outras.
Santos'agrados começa pelo título, embora o título tenha surgido
apenas depois dos solilóquios escritos: é passagem rapidíssima de
um texto enorme, “Os morcegos estão comendo os mamãos maduros”,
do experimental Gramiro de Matos (ou Gramirão, ão, ão). Nele –
Santos'agrados, não Os morcegos... – ouvimos vozes. Três
personagens velhos sábios cansados velhos, um pouco santificados,
bastante não, contam histórias e soliloquam. Um vendedor de peixes,
um vendedor de mate, um santo canonizado. Não são as histórias que
importam, nos solilóquios, embora cada fragmento de conto seja um
romance inteiro, até onde sabemos. O que importa mesmo são as
vozes, a audiência, a escuta e sobretudo o silêncio que permeia
tudo.
Amanhã, talvez depois, talvez jamais, seguiremos nestas crônicas
sobre o processo que é Mar de Viração. Feito onda, a ir e vir,
bater e rebater, coar e ecoar.
–
Aproveitem o ensejo para acompanhar a Editora Moinhos:
https://editoramoinhos.com.br/
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