- Ela disse "qual é o nome dele" e eu "Rodrigo" e ela "Rodrigo, eu sei, mas qual é o nome dele" e eu "Rodrigo, eu disse" e ela "Esse é o apelido, e o nome dele?", "Rodrigo"...
Nomes são coisas que se dão antes dos nomes. Um filho nasce e vestem nele a roupa certa, costurada amor carinho pelos pais, pelos amigos ou pela revista Ela, nome-de-bebê. Nomes são rótulos mais fáceis de evocar que "moleque-loiro-de-cabelo-crespo-olho-verde, venha cá". As pessoas não se atentam aos nomes que elas mesmas têm. Ninguém. Nomes de gentes são como batalha naval: B-8. Água. C-3: afundou meu couraçado.
Se não se acertam os nomes, acertam-se mais nada. Mas como ninguém sabe, como ninguém atenta, ficam todos tentando colocar nomes que digam algo, que sejam bonitos com seus ípsilons e dáblius. Quando a roupa é vestida, por fim, é o fim da potência bebê. É àquele nome que ele vai responder, sempre, pra sempre, até que venha um moleque maldito e lhe ponha um apelido.
O nome da rosa não é a rosa mas arrisca dar à flor uma essência, identidade. Com humanos é o mesmo: na cidade - que tem nomes - um monte de histórias se enroscam buscando essências e almas e troços que façam a pessoa ser aquele nome. Mas quando o bebê nasce, quando chega, o nome vem junto com ele ou acontece ao redor: o nome não é pronto-a-vestir.
Nomes não são essência, são ocorrências que surgem no instante espontâneo em que o nome é chamado. Pela primeira vez.
O nome do meu filho não tem nome.
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