sábado, 8 de dezembro de 2012

pré-efemérides


Daqui a dez anos teremos um século de Modernismo, e nem nos tornamos Modernos - no sentido desenvolvimentista do termo - nem nos modernizamos - no sentido estético e programático que, desde o comecinho, pressupunha dedicação e leveza.

Daqui a cinco anos teremos meio século de Tropicália, e nem nos tornamos Tropicais - porque ainda desejamos e ambicionamos nordicidades que não nos pertencem - nem nos tropicalizamos - no sentido de que continuamos enchendo cidades, asfaltando o mundo e deixando os trópicos escondidos sob concreto e sisudez acadêmica.

Da Tropicália, também, não mantivemos a dedicação de pensar, sinceramente, a estética. Falta, hoje como há cinquenta anos, dedicação formal constante. E leveza.

Aproveito-me de efemérides antecipadamente: dez e cinco anos. O que faremos, nesse tempo? A que dedicações estéticas, estilísticas, a que fruição de vida, a que renovação das coisas pretendemos estar atentos? Dedicados?

E leves.

Se algo se fortaleceu nesses últimos decênios, talvez tenha sido a despreocupação com a forma, com a estética. O mesmo movimento que enaltece padrões de beleza e consumo rebaixa a dedicação com pensares de estilo, de questões formais. 

Fala-se muito, quer-se dizer muito, diz-se mal. Em algum momento perdemos a noção de que mostramos o que mostramos, e não a nossa intenção. O conteúdo ganha seriedade, peso. A estética perde atenção. E leveza.

Dentro de cinco e dez anos serei chamado a analisar meu próprio trabalho, e rever o que fiz - terei feito - para contribuir de alguma forma com aquilo que me parece, de um jeito ou de outro, essencial. Em cinco e dez anos, passados os momentos que historicizam os conteúdos do que é arte, do que é produção, a única coisa ainda viva será o estilo com que isso - seja lá qual isso - foi feito.

Talvez seja um problema de aceleração de meios, de circulação. Talvez queiramos transmitir incessantemente uma quantidade enorme de informações, novas coisas, novas ideias, e não lembremos de que informações, novas coisas e ideias precisam de atenção, de boa forma, de estilo e auto-suficiência.

E leveza.

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