sábado, 15 de dezembro de 2007

manifesto pivaniano pelo arrastão & pela fuga

devíamos iniciar um processo de arrastão anarquista anti-empresarial demoníaco de fim de semana. uma onda de americalatinidade varreria todo o continente com destino ao máximo norte, pra pontapetear caretas reacionários chatos e ácaros no mar gelado do pólo. os estadosunidos cairiam frente às marchas lancinantes dos latinos reunidos e os canadenses pulariam num pé só para a groenlândia, único território neutro do planeta.

enquanto isso mandaremos torpedos sms para toda a áfrica e ásia conclamando anarquistas, comunistas, desempregados e desocupados, traficantes, contrabandistas, ladrões de banco, estelionatários, mafiosos, cangaceiros, arruaceiros e demais interessados a subir para a europa e sufocar o último grito da nobreza decadente autoritária e hegemônica do mundo.

temos como meta a desmetalização das relações sociais, a supramentalidade da consciência ampla & mística universal e a metida com a mulher desejada mesmo, sem meias palavras. as palavras inteiras são tudo que nos interessam, e as meias pessoas devem ser expurgadas do mundo e jogadas no frio vácuo cósmico negro da total ausência de tudo.

assaltaremos todos os bares adegas botecos mercados atrás de garrafas de bebidas alcoólicas. faremos suprimentos infinitos de molotovs ou beberemos tudo até cair. ninguém estará isento. a comunidade hacker mundial será conclamada a desestruturar todo o sistema de comunicação do mundo para que o pânico informacional se instale e nos dê oportunidade de varrer do mapa os contra-arrastonários. o arrastão é a saída.

se não for a saída, arrombamos a porta ou abrimos um buraco na parede. de alguma forma escaparemos.

santos/bauru 22 de setembro do ano de 2006 de nosso senhor primeiro dia mágico da primavera

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

a última página

A última página de Maíra dizia “Fim”, mas era apenas o começo
ainda que ela não soubesse.
A última página dizia enfim o que sabia ser
desde o começo:
A última página dizia a mim
o que fazer
e, pois, eu fiz.
Ao fim da última página,
depois, além,
escrevi outras letras mais,
escrevi muitos outros fins
(e alguns meios também).

Após a última página triste, ao fim de Maíra,
inventei finais intermináveis,
e a estória, assim, não acabou.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Eu sou Tempo. Sentado, agora, vejo o que não via já há muito. Sou o tempo que falta, sou o vento que aviva a brasa e acalma a chama - e a fortalece.

O Tempo novo, do começo, hoje. Só tenho tempo de ver o futuro, pensar o devir que nem sempre vem a ser. Não me é dado pesar o passado, não sou chamado a viver o presente. Tempo novo, olho a fúria do futuro que agiganta a linha longa do horizonte.

Olho desde já, vivendo à frente. Por tempo demais julguei viver plenamente o presente, esquecendo o futuro, e estive errado. Como Tempo, sou o que estou, no momento certo de estar. No início, o início, e o fim ao final, se um dia este chegar.

Furioso, leve, vago, lento. Nervoso e amedrontado. Tempo futuro, que se existe no presente e lança cores de passado sobre o ver o que virá. A beleza de ser um início é temer a comprida jornada que o liga ao final.

E, nesse momento, o início principia. Do precipício à beira-mar, o caminho se amplia de vertigem a navegar-todo-o-espaço que acaso se apresente. O medo da beleza do início é não saber o acaso que se apresentará.

Eu sou Tempo, e o único tempo que tenho é o que ainda não veio.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

o que sou, mal sei

sou um sonhador, um místico pretenso poeta e literato. sou um misto de paredes de teatro com tablados de cabarés, divãs de terapias e redes virtuais da world wide web. tento ser um grande, mas aqui dentro, bem aqui dentro onde dói e ninguém vê, sou pequeno e medroso e feito filhote de bem-te-vi. e eu vejo, calo sempre que possível, escrevo muito e vejo. nasci pra ver as coisas e pra criar vistas belas, muito mais que pra falar ou gritar por sobre elas a toda a gente. não sei o que sou, na verdade, e mal sei o que serei dentrembreve quando eu cair de verdade no mundo, mas quero sonhar com os pés na terra de meu deus e ouvir e ver e sentir uma vida que, até agora, me aparece longe, lá longe, ponta dos dedos mais esticados possíveis. quero voar, e ir, só. porque sozinho já sei ser.

sábado, 8 de setembro de 2007

errante

Não se pode presentear ninguém com estradas. E, pensando nisso, partiu mais uma vez. Sozinho.

Tinha gosto pelas coisas derradeiras, ele. Pessoas, então, preferia-as de costas, indo já ao longe. Não era fã do afã humano por contato opaco, ou oco. Se não houvesse alma, mundo, não servia.

E normalmente não havia, é claro. Afinal, o mundo não arranca seus pedaços pra os ceder a qualquer arremedo de ser ciente. O mundo não gosta de gente.

Ele era sempre o que ia embora, de algum modo. Quando estava por perto, entretanto - e sempre estava, em algum canto - realmente apresentava. O mundo como representação.

Vontade? Só a de ir embora. E, quando batia, não havia chão que o segurasse. "Se é pra ir embora, vá. Não volte, não chore, não solte a mala ao chão antes de ir. Se é pra ir embora, vá, pela sombra ou pelo sol, com deus ou seja lá o Alá da vez. Vá, contemple o rumo que tomar".

E ia. Pergunta agora o motivo do por que o digo no passado? Porque, como sempre ia, Renan se foi.

Prefácio a Mísera Mesa.

Foi na sessão de fotos para criar a nota que abre o blog Quatro Patacas, em uma simples conversa, cujo contexto não me lembro, que a aliteração "mísera mesa" surgiu. Esse par de palavras combinadas foi o suficiente para Leandro correr ao computador e registrar esse endereço.

Além de certo humor em seu nome - humor esse que permeia todo o conceito de seu blog em conjunto, Quatro Patacas - vejo um novo blog como um recomeçar. Um espaço onde o passado escrito ganha seu respeito, mas não pode entrar.

É assim que chegamos até esta mísera mesa. Mesa, pela idéia central de um escritor, que apoia seus cadernos nela, cadernos os quais sairão idéias que serão expostas aqui. E mísera porque, afinal, os escritores sempre escrevem sobre seus cadernos de anotações, grandes companheiros, mas nunca sobre o elemento que os apoia para serem escritos. A mesa é uma dessas incógnitas do oficio do escritor, um suporte sempre presente, mas nunca lembrado.

A convite do próprio Leandro, fui o carpinteiro desse local, finalizando a aparência dessa mesa, e agora com minha missão concluída, deixo-a pronta para o autor, seu verdadeiro dono. O que será escrito, fichado e exposto nela ficará a cargo de Leandro, o escritor sonhador das palavras. Criador de cenários fantásticos, mulheres amáveis (e estranhamente nunca vingativas) e de um imaginário criativo vindo da influência do mestre Gaiman.

É com prazer que apresento esse novo começo. Ergo minha taça de vinho, subo em cima dessa mísera mesa só para apresentá-lo. Aos senhores, Leandro Durazzo. Tenho por certo que ele sabe o que fazer para agradá-los.

Um grande abraço,
Thiago Augusto Corrêa


*Thiago Augusto Corrêa participa do blog coletivo Quatro Patacas
e é o escritor do blog O que Dr. House Diria.