quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

- Tu não se sente derreter? Os braços, as pernas, a dobra da pele na barriga, não sente o calor? Não sente o calafrio que passa na espinha, na minha, no tremor que percorre tudo? Sente não? Tu não sente o absurdo dessa conversa, do avesso de sentido, não sente que devia ter sido o que não foi, e que devia ter ido, e que ir estraga, que ficar piora? Não sente esse vento agora, batendo no peito, esse sopro, aumento de frio na corrente de ar? Não ouve o mar vindo e vindo, em ondas que não param de chegar, de molhar os pés, de aguar a cara? Não sente, cara? Como pode não sentir esse assobio caetanear bem no pé do ouvido, o clima torcer, o céu ao contrário? Não sente, não toca, não vê? Como pode ser, se antes tu via tudo, sentia igual? Se teu paladar era todo sal, amor, atenção? Tu não sente agora as cascatas de erros, enganos, lamentos, peso na consciência afogar a face? Tu não sente quase o afogamento? Não percebe o quanto eu tento me agitar, bater os pés, girar os braços, prender o ar? Não vê que eu sou o mar mesmo em que me afogo?

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