quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Isomorfias entre Jesus Cristo e o boi-de-piranha: breve hermenêutica da kenosis


"Na canção 'Travessia do Araguaia', Tião Carreiro desenvolve a analogia entre o boi-de-piranha e a crucificação de Cristo. Assim, o boi-de-piranha, unidade pouco rentável de um coletivo maior - o rebanho sendo tocado pelo peão -, assume características cristológicas claras ao se esvaziar de sua individualidade soberana e rumar para o rio infestado de peixes vorazes. Ao entrar nas águas, o mártir atrai a atenção de todo o cardume, que o devora, permitindo a passagem em segurança do peão e do restante das reses. O boi-de-piranha permite a redenção do rebanho, seu traslado para a outra margem, quase que sua promoção ontológica. É um boi redentor, assim.

Claro está que o boi-de-piranha não realiza tal ato por amor incondicional ao coletivo rebanho, diferente do que nos é dito do Jesus que se esvaziou de si para, através da kenosis, tornar-se Cristo Redentor de toda a humanidade. Perguntarão: "quem pode assegurar que Jesus também não hesitou até que seu peão, o Deus Pai, o tenha tocado para as águas deste mundo profano?". Mera especulação. Importa notar que a história do bezerro de ouro foi suplantada por sua atualização no boi-de-piranha, e muito de nossa civilização é devido a esse evento crítico"

(ORGOY, Carlos Juarez. Isomorfias entre Jesus Cristo e o boi-de-piranha: breve hermenêutica da kenosis. Araçatuba: Editora Sete Flexas, 2003, p. 173-174)

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