um mosquito passou por aqui, pela minha frente, entre meu rosto e o livro que eu lia. O mosquito passou voando de baixo pra cima, nervoso, bem lento, carregando nas patas um fio de cabelo meu que estava no chão. Esse mosquito pequeno carregava o cabelo dez vezes maior do que ele e voava lento pro alto, pro teto, pro céu branco de concreto. Pensei na hora em um jão-de-barro, em um passarinho, pensei em escravos do egito antigo a carregar coisas grandes pesadas e muito maiores do que eles próprios.
Pra construir a casa da moça, dos filhos, dos deuses, dos reis faraós, depende bastante. Mas todos levando um pedaço de algo de um ponto a outro, igual ao mosquito diante meus olhos.
O mosquito voou cambaleante até o alto do quarto e meus olhos se ofuscaram pela luz acesa. Mosquito sumiu. Não sei aonde foi meu cabelo, não sei onde está o mosquito, não sei se essa luz que me cega é a lâmpada de meu quarto ou o poste de luz da casa desse mosquito.
Não sei de nada disso, mas vi um mosquito carregando um fio de cabelo.
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