domingo, 16 de setembro de 2012

quatro quatro

Sentei no chão para meditar. Lá fora, no fim da rua, vizinho ouvindo música africana. O cachorro de repente correu da cozinha pro meu tapete, deitou entre minhas pernas cruzadas em meio-lótus e virou a barriga pro ar.

Entrando e saindo, com calma, respira seguindo cadeias do karma, respira, respira, não preste atenção a mais nada, mais nada, nem preste atenção na dentada que o cão acabou de te dar no dedão.

Parei de respirar. Ou, ao menos, de prestar atenção no respiro. O cachorro espirrando e mordendo meus dedos, deitado entre os pêlos caídos no chão, mordia minha mão e a tirava do mudra universal. Mudra universal. Atirava do mudra universal.

Não, não. Tirava a mão, a minha, do mudra universal, foi o que eu disse. Palma sobre palma, ponta dos dedões levemente encostadas, esse é o mudra, o universal. Existem vários. Com o cachorro chinês mordendo as falanges, hoje meditei com o mudra do cachorro doido, música africana tocando lá fora.

O cão não entra no meu quarto. Não pode. Fui pavlov com ele, e mesmo com a porta aberta o focinho não passa dela. Mas hoje, depois de me morder feito um louco, botou-se nas patas um pouco e foi porta adentro explorar. Meditando, pensava que não pensando não pensando não se importe deixe o cachorro deixe o cachorro não há problema não há porque não há não há nada em teu quarto é teu nada é teu teu não há tu não há não há nada nada eu não não cão quarto deixa o cachorro em paz!

Deixei. Voltando à respiração, a atenção não se encachorrou.

Acho que ele reparou, porque pouco tempo após veio lamber meus braços e minhas mãos como quem dissesse "pronto, irmão, meditação acabou".

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