quinta-feira, 3 de outubro de 2013

anticonstitucionalissimamente

crescemos ouvindo dizer que é a maior palavra
da língua portuguesa
e pelo menos aqui no brasil
acho que acabamos achando
que ser a maior
é um elogio
e assim agimos

anticonstitucionalissimamente

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acreditar no poder do mundo

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se dinheiro resolvesse tudo
a gente já teria feito
uma vaquinha
e consertado o mundo
se dinheiro resolvesse tudo

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sabe...
o que a gente quer
é que as coisas se resolvam por decreto
passe de mágica
é isso que quero, não vou mentir não

porque quando as coisas saem assim do controle
quando o controle do Estado é de força mais que de fato
e quando de fato o cacete come rua afora
contra toda decência e sanidade
contra toda responsabilidade

eu queria que as coisas se acertassem por decreto
passe de mágica
nescafé

mas não, né?
e aí a gente fica olhando
olhando
falando pensando
indo pra rua e apanhando
(parênteses pra me salvar
da hipocrisia: ainda não fui à rua
ainda não apanhei
admito)
aí a gente fica olhando
e não sabe o que fazer
nem por onde pressionar
nem o que mudar primeiro, exatamente

é toda uma cadeia intrincada de erros desmandos tormentos e torturas
em espaço público ou na clausura, digaí amarildo velho de guerra
digaí

é toda uma complexidade triste
violenta
e angustiante

que, como antes, a gente só
olha
e fica olhando
sem saber por onde continuar
(porque começar já começaram
evoé, saravá, deus abençoe os movimentos)

sem saber por onde ir
sem saber onde apontar
sem saber qual nó desataria o absurdo

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ninguém resiste ao tempo
e o tempo
não resiste a passar

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[engraçado como de repente
as coisas vão vindo e voltando
as imagens

como se me assombrassem
mas tranquilas
mais parecidas com fadas natura do que
com fantasmas

imagens
poéticas como as de meus autores
mestrado e doutorado
jorge de lima e e.e.cummings
escritores
e artistas visuais, pintores, plásticos
fotomontagens

engraçado porque
teve uma vez em que pensei estudar
o circo
viver no circo, propriamente dito
e estudar

eu ia chamar de
antropologia
ia dizer que viver no circo era
um pretexto
de etnografia

mas não fui

e nem eles
escritores
apesar de terem no circo um dos bons motivos
em suas poesias

no círculo
na órbita
nas esferas
constelação

engraçado como as coisas vão
e vêm
e ficam
mesmo sem nunca nem
começar

respeitável público]

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maldito caminho das índias
início da globalização
malditas especiarias
maldição
sem vocês hoje não teria
spray de pimenta na mão
de filho da puta nenhum
não teria
não

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[ouço a globo

(é, eu sei, lamentável)

ouço a chamada e a menina fala

:ah!, acho
que o amor nasce com a gente
e o sexo a gente aprende
culturalmente

e séculos e séculos
de pensamento crítico antropológico
vai pro buraco na mente do povo
que só ouve a globo]

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[toda vez que eu ouço
quebra-quebra
na tevê eu penso
em substituir
por outra palavra assim

chup-chup

"e no próximo bloco
:mais um dia de manifestações
e chup-chup
pelas ruas da cidade

os manifestantes pediam pelo óbvio
respeito e igualdade

um bando de mascarados foi visto
iniciando o chup-chup
na câmara dos deputados

o choque foi acionado contra o chup-chup

houve confronto"]

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