quinta-feira, 28 de julho de 2011

dezessete cm³


Não enxergo mais um palmo à frente do nariz. Não, ao menos, quando o palmo está a uma quadra de distância.

Duas quadras, no entanto, é quão longe desta casa fica o estádio de futebol. Jogo hoje, jogo grande. Vários gols. Eu na sala ouço os gritos da torcida entrando na janela enquanto, trás da porta, vêm gritos dos vizinhos com a televisão ligada.

Há delay. Entre um lance e a transmissão, alguns segundos. Gol!, gritam no estádio. Meu som continua tocando, minha leitura continua lendo... gol!, grita o vizinho. A tv dele faz barulho.

Se eu ouço o delay, eles também. Mas, mesmo ouvindo, o grito de gol vindo do estádio não antecipa o gol dos vizinhos. Emoções já esperadas emocionam do mesmo jeito, ao que parece.

Na cozinha a torneira solta pouca água, que cai em padrões entrelaçados. Há textura na torneira. Ao longo do fio de água as cores não se misturam: a curtos intervalos há azul e há vermelho. O filamento está listrado.

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