quarta-feira, 24 de agosto de 2011

cena 24 de agosto


chorar é um evento solitário

Sento num descampado para escrever. É a mureta do canal, canal 2, pés na calçada olhando a rua. Às costas, a água suja do canal corre pro mar. À minha direita árvores espaçadas fazem sombra na calçada. À esquerda também. Só exatamente em minha frente é que não há nenhuma planta. Os carros passam e eu escrevo. Isto.

Na janela de um shopping alto, eu pelo lado de dentro, um suco na minha mesa, olho os prédios do lado de lá da avenida. O prédio que eu vejo me olhando é uma casa baixinha, um sobrado, uma casa baixinha velha mas reformada, casa onde havia um pronto-socorro. Quando criança, muitas e muitas vezes fui doente praquela casa, e o doutor do segundo andar me fazia esperar na sala. Criança, olhando pela janela, via o shopping alto que na época não existia. Ali havia um cinema.

Caminho pela praia e molho os pés na água, depois saio dela. A linha que sigo, tortuosa, passa por cima de patas de pássaros. Pegadas de asas estão pelo chão da praia. Sem perceber muito bem, pisando por sobre elas eu meio que alço voo.

Vejo um posto de gasolina que já era um posto de gasolina quando fui adolescente. Lembro de uma vez que, saído da escola, eu e uns amigos andamos até ali. Sem motivo aparente. Na esquina continuamos a conversar, a falar, até que já fosse tarde o suficiente para eu levar uma bronca quando chegasse em casa. Tudo bem. Um amigo ali, naquela tarde, me deu as coordenadas matemáticas do famigerado ponto G. Vocês ficariam surpresos de saber o quanto ele existe...

Numa das últimas ruas, passo defronte a uma casa antiga. Casa em que eu ia criança, casa da vó de uns amigos. Faz tempo. A casa está igual, paredes de azulejos na garagem aberta na entrada. Na casa da vó de meus amigos o portão está enferrujado. Na de minha vó também.


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