quinta-feira, 11 de agosto de 2011

dois patinhos na lagoa


- Ô paaaaai, posso lavar o cabelo? Ô paaaaaaaaaai...

A criança grita do chuveiro e a voz vem pelo poço do elevador. Morar em apartamento é viver, de um jeito ou de outro, a vida de todos em volta. Alguém bate a porta, alguém bate à porta, um velho morre no andar de cima, o vizinho chora, o cachorro late e a mulher se despede antes de ir embora.

Pisando pra fora do prédio ela muda de bloco, dali em diante sua vida se isola, não é mais pedaço da história do prédio. Não está mais ligada ao homem que morre e o homem sem teto, que dorme encostado na escada da praça, não é nem um nada. Não é nada pra ela. A mulher que saiu do edifício segue sozinha uma história sozinha.

Deitado na escada, na praça, o homem afasta umas pombas e um grilo. Não vive num prédio, não tem seus vizinho num bando de gente: vez disso, ele é consciente da morte do esquilo, das asas batendo de uma andorinha, da grama que nasce, das flores que brotam, da quina da escada que o fode nas costas. Viver na praça é morar, de uma forma ou de outra, no meio da vida de todos em volta.

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