quarta-feira, 24 de outubro de 2012

nota sobre o Budismo no Brasil

Há alguns meses fui contactado por um WebJornal para responder a algumas questões sobre o budismo no Brasil. A matéria saiu e, como era de se esperar, do que eu respondi pouquíssimo foi aproveitado (confira o texto em questão aqui: http://www.mundodigital.unesp.br/webjornalnovo/23/09/2012/por-um-mundo-mais-zen/)

Portanto, aproveito para publicar aqui no míseramesa as respostas completas que não foram utilizadas.


Quando o budismo chegou ao Brasil? Como foi essa chegada?

No início do século XX, com a chegada dos imigrantes japoneses ao Brasil – em 1908 -, o budismo nipônico desembarcou oficialmente no país. Havia um missionário ordenado, no navio Kassato Maru, e com ele o Budismo Primordial (Honmon Butsuryu-Shu) começou a se estabelecer. Entretanto, por pelo menos 50 anos a presença desse budismo, e de outras tradições japonesas, manteve-se restrito à comunidade étnica de imigrantes e descendentes. Foi quase o mesmo caso com o budismo chinês, que chegou ao Brasil quase um século antes da imigração japonesa de 1908. Em 1810, centenas de chineses foram levados ao Brasil com o intuito de desenvolver o cultivo de chá, e não é difícil imaginar que carregavam consigo as tradições religiosas da terra de origem. Seja como for, essa primeira migração chinesa não vingou em terras brasileiras, nem seu budismo se expandiu para além dos poucos remanescentes dessa onda. É seguro falarmos numa maior expansão do budismo no Brasil a partir das décadas de 1950 e 1960, especialmente, com as novas ondas migratórias da Ásia, especialmente da China e Taiwan, e com a consolidação de centros missionários japoneses como o Higashi Honganji, em São Paulo. Nessa época, inclusive, o budismo tibetano se expandia para o ocidente por conta da invasão chinesa ao Tibet, que infelizmente se prolonga até hoje, e o exílio do Dalai Lama trazia a diversos países ocidentais essa tradição budista específica. No Brasil, aparentemente, o budismo tibetano se fortalece a partir da década de 1980. Depois, em 1992, chega ao país um representação de Fo Guang Shan, ordem taiwanesa do budismo chinês, que hoje marca presença importante com o templo Zu Lai, em Cotia – SP. 

Recapitulando, portanto: o budismo étnico está presente no Brasil desde as migrações orientais, no século XIX com os chineses, século XX com os japoneses. Sua difusão entre a população brasileira não-descendente, entretanto, acontece lentamente a partir da metade do século passado, e se fortalece pelo interesse acadêmico e intelectual dos estudiosos e leitores de obras budistas, acompanhando uma tendência ocidental do período. Existem diversas tradições, escolas budistas e correntes vindas de diferentes países asiáticos, e essa sumarização não chega nem perto da verdadeira realidade budista brasileira. São apenas alguns pontos em um cenário disperso e de difícil mensuração, que merece ser descoberto e conhecido por todos que se interessem pelo tema, pelas práticas, pela religião. Retomando a pergunta inicial, vale lembrar que não é tão simples falarmos de “um budismo”, já que 2500 anos de tradição filosófica e dispersão geográfica constituíram “budismos”, expressões religiosas embasadas nos ensinamentos fundamentais do Buda – o Dharma -, mas que ainda assim se mostram bastante diversificados em suas manifestações.

Existe alguma estatística de quantas pessoas seguem os ensinamentos budistas no Brasil e no mundo?
Existem os dados do IBGE, que ainda neste ano de 2012 divulgou as informações do censo mais recente com relação às denominações religiosas no Brasil (ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/tab1_4.pdf ). Com relação aos anos anteriores, podemos encontrar na tese de doutorado do professor da PUC-SP Rafael Shoji a recolha desses dados (http://d-nb.info/972545468/34 ). De 1991 para 2000 tivemos a diminuição do número absoluto de budistas, passando de 236.405 para 214.873. Já no censo recente, de 2010, temos a população total budista estimada em 243.966. Um aumento em números absolutos, portanto, que está ainda à espera de uma análise adequada.

Com relação aos números no mundo, temos uma boa fonte no site internacional BuddhaNet (http://www.buddhanet.net/e-learning/history/bud_statwrld.htm e http://www.buddhanet.net/e-learning/history/bstatt10.htm).

Qualquer pessoa pode participar dos rituais budistas?

Sim, embora essa seja uma resposta bastante relativa. É sempre possível participar das práticas budistas oferecidas por cada centro de Dharma, por cada templo específico. Entretanto, nem todos os rituais são completamente abertos ao público, porque alguns deles requerem a realização de rituais anteriores. Mas práticas de meditação, participação em ritos de recitação de sutras, entre outras atividades, normalmente estão abertas a quaisquer interessados. Basta que, para isso, a pessoa entre em contato com os responsáveis por cada organização e, assim, encontre as melhores maneiras de conhecer o Dharma e, com interesse, praticá-lo.

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