domingo, 14 de agosto de 2011

23, dia dos pais


Pedalando pela praia, desacelero. A menina que vai à frente pedala devagar, insegura, tentando tirar uma das mãos do guidão. É criança. O pai vai na frente e a deixa por conta própria, mas não pedala rápido pra que não se distancie. A menina treme, faz pequenos ziguezagues, treme, por fim grita com a mão pro alto. Uma delas, a direita... não, não, a esquerda! "Pai! Pai! Tirei uma das mãos!". Depois, mais baixo, falando pra si própria, ri. "Tirei uma das mãos... que fantástico!".

Sento ao pôr-do-sol olhando os morros lá distantes. Estou sobre pedras no canto da praia, no outro canto o sol avermelha. Passa um sujeito e desce pra areia. Um cigano, penso eu, de colete sacola e bolsa barbicha e cabelo comprido. Volto a olhar o céu antes que o sol se vá. No fim das pedras o cigano assenta, com o pé na areia. O sol vai dormir e o cigano acende um cachimbo de madeira.

Crianças correm da areia pro mar, atrás do pai pescador que parou o barco no raso. Crianças sorriem pra água que cai, pro homem do algodão-doce, pra árvore, pro coco verde gelado a 3 dinheiros, muito caro. Crianças passam na noite de lua cheia com vento quente, vento noroeste a gente chama, que traz chuva e me lembra infância.

No teatro me admiro. De toda a beleza coreografada, ensaiada, de textos prontos e marcas dadas, o caminho das pétalas que caem do alto se faz por acaso. Tampouco ensaiada é a pétala que agarra na trança da moça, da bailarina que sai. Tampouco meu choro.

O espetáculo acaba e o choro prossegue.

De repente passa uma criança...

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*a foto é do tal espetáculo: http://www.donkashow.com/donka.html

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