ouvir música como quem
espanta deus
e observa os passarinhos
à deriva
na imensidão
do olvido
---
ela tinha olhos do tamanho
do infinito e ele só um pinto
---
MICROCONTO DE FADAS
pirlimpimpou-se
---
só vai preso quem não tinha
---
[não estraguemos as crianças]
---
deus falou assim
"sim"
mas deus mentiu
pra tu
pra mim
só não mentiu pra esposa
que esposa de deus é bicho bravo
é deusa
e desce o sarrafo quando deus mente
palavras de deus não são pra gente
---
[ela ainda não foi
embora
tenha]
---
[por que, pergunto, sou eu quem devo organizar meu pensamento?
por que meu pensamento, por que organizado, por que dever?
qual a dificuldade em ser disperso?]
---
ela
falava com cachorros
passeando na rua falava com cachorros
o homem ia atrás
só manducando
a cena que ali desenrolava
na calçada
ela
andando pela rua
falando com cachorros
---
tenho
um pedido de desculpas a fazer
pedido público
universal
tenho querido engolir a vida
abraçar o mundo
encontrar saídas cavar poços fundos tenho
tateado às cegas muitos caminhos
estradas compridas
amigos, amigas, profundos e completos
desconhecidos
tenho recolhido pouco a pouco
pedacinhos de outras eras
de outra história
tenho coletado pouco
e muito tenho abandonado
tenho me aproximado
falado muito
sorrido alto
dormido pouco
tenho esperado
apressado, tenho esperado
espero eu ser desculpado
---
um retiro de
silêncio
---
uma vez
claudiowiller falava sobre beats
em porto de galinhas
eu não vi porque bebia
numa praia
enquanto willer lá falava
ontem
outra vez
cemitério de automóveis noite beat
eu apenas flutuava
entre as salas o teatro a calçada
ouvindo e falando sobre
poesia anarquismo putaria zen budismo
tudo que sei pouco
bebendo muito
flutuava como em sonho alcoolizado
kerouac festejando gary snyder
flutuava entre tragos
passos
num espaço povoado por gigantes
saravá amém gasshô
pessoal de alma na estrada
saravou
---
fazia tempo que
bêbado como um gambá
não se aplicava
noite beat, sinta-se honrada
Nenhum comentário:
Postar um comentário