sexta-feira, 22 de novembro de 2013

toda máquina é bicho
animalincompreendido

ser vivo algum é maquinal

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um estudo em concreto: amor, parte XIII

na calle
na rua
na esteira de concreto que acaso cobre os dias
sem que se cobre sequer um puto
fale-me de amor
que eu
escuto



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- Meu filho, vem cá, você pode por favor pôr no gráfico?

- Como é que é, velho safado?

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remendar o asseio das palavras
com a visão penetrante do que falo

remendar o puritano da palavra
com a visão esgarçante de um falo

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ignorância é um status que se come tu

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um estudo em concreto: amor, parte XII

todo mundo que fala de amor
o amor entende
todo mundo que fala
o amor atende
todo mundo que cala
ama
como um soco um pontapé uma porrada
na garganta

("O amor é um PM chutando tua costela na manifestação." - Diego Moraes)

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o erotismo será vossa desgraça
vossa miséria vosso laço vossa forca
o erotismo o jogo o atrito entre a verdade
nua
e a crueza bruta
o erotismo será vossa desgraça

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um estudo em concreto: amor, parte XI

amor é possibilidade
s

("um exercício

amor é talvez
aquele cometa
que passa
que passa
e você nem viu
a noite nublada
o fuso atrasado
ou talvez só o seixo
a pedra do rio.

[mverunschk]")

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ela é
o nome do que tange a madrugada
ela é sílaba sagrada fé bornal
cheio de estrelas
ela é pequena para entrar
em todo canto em toda vida
e é grande muito grande para
enchê-las

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às vezes, devo dizer
às vezes sexo me parece mais
um exercício físico
um triatlo
pentatlo, depende
um exercício físico do que
um algo sacro

sexo é um barato
é um barato
a banalidade é o sagrado

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[renaturalizar o natural
banalizar o que é banal
deserotizar o sexo
é o que eu digo
deserotizar o sexo]

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corre o tempo y corre
o rio y corre as hora y
corre a vida y corre a mor
te corre tudo y corro eu

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nuddismo y orgia
por uma sociedade menos careta

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ó vocês que querem
fechar do masp o
vão
pra onde o sol não bate
pra onde o sol não bate

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"Eu vou nadar no mar", ela disse.

Ele olhou pela janela e viu cavalos, sol por sobre árvores e uma vastidão de morros e montanhas. Pensou sobre a tecnologia, sobre o contato a distância, pensou na distância, pensou no mar que também era dele. Massa d'água.

Ela agora estaria nadando no mar. Ele, ouvindo cavalos relinchos e pássaros no cerrado, fechava os olhos. Pensava na tecnologia, nela a quem não conhecia, em tantas outras, em tantos outros.

Infinitos cantos do mundo, grutas e grotas rios e animais sem nome. Populações inteiras de mortos de fome, outras tantas de obesidade. Estas, em bem menos número, verdade. Pensava depois no que ia pra lá do planeta, pra lá da terra, o que ia lentamente se esgueirando fora da atmosfera, pensava na tecnologia toda que ligava os astros, satélites, espaço.

Uma cidade em forma de nave, no meio do mundo uma cidade. Umbigo do mundo, outra cidade. Ressoando nos ouvidos, sons balidos cordas cantos do norte dáfrica. O centro de tudo.

Eu vou nadar no mar, pensava.

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face a face

agora pare
e pense
em que pronúncia leste
face a face

fáce a feice?
fáce a fáce?
feice a?

que pronúncia vai
ficar?

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divar
di.var
(derivação sufixal do sf diva) v.int. 1. Endeusar-se. 2. Apresentar canto notável. 3. Ser Laerte.



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um estudo em concreto: amor, parte X

("Ame quem te cansa na cama" - Bruno Almeida)

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não saber quando parar

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templários do tempo do rei digladiam
se com soldados do choque do rio
em um cenário banal
em um dia
quase igual a todos os
demais

caçadores-coletores fazem frente à
ofensiva de zumbis mortos de fome que
reviram lixo reviram bichos e braços e mortos e

intraterrenos encontram extraterrestres para um chá
das cinco
às dez

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ou
nuddismo

quebrar as máquinas
co pau pra fora

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tu lírico
bicho
é poesia para os meus
ouvidos

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tem gente que todo dia
a consciência nega

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[toda vez que alguém agradece
à Deus

deus vira mulher

pelo nosso nível de analfabetismo funcional e problemas com crase, creiam
o paraíso é um matriarcado há tempos]

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um estudo em concreto: amor, parte IX

ela pavimenta meu caminho até o mar. Tira de meus chinelos o chão da praia, dobra minha vista em lonjuras e esquinas. Eu jogo areia em seus olhos, como seu coração na ponta de uma mesa, num bar, cidade vadia e desvairada. O amor é um desvio na mão dupla de uma rua, é uma avenida despedaçada e sem sinal. O amor só faz mal se não existe, ou se é pouco. Ou se tem mãos atadas que não podem despir o corpo.

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digo simplesmente
foi mal, gente
precisei sair corrido
dois minutos do busão, cheguei a tempo
queria ter ficado com vocês
digo simplesmente
foi mal, gente
daqui a pouco estou

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um estudo em concreto: amor, parte VIII

quando o assunto é
amor
robôs matam a pau



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polícia
se fosse
boa
era delícia

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[contemplando um armário de banheiro da década de, pelo menos, 1970, chego às seguintes considerações:

- o design das coisas, antigamente, era mais honesto. Ganchos, arames, grampos e parafusos ficavam à mostra. As prateleiras são declaradamente de metal, algo como uma chapa de aço escovado presa ao interior das portas. É possível ver as partes que compõem o interior do móvel.

- as coisas, hoje, são falsamente revestidas. Elas são revestidas, eis tudo. Cobrindo ganchos, arames, grampos e parafusos, camadas lisas e bem desenhadas de plástico, curvas e traços clean ou futuristas. Não se veem mais os componentes internos das coisas, não é mais possível acreditar que as prateleiras sejam peças presas ao corpo maior do objeto. Tudo parece orgânico, mas o preço da aparência orgânica é a falsidade da construção]

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"de citação morreu o burro"

- Armindo Alcântara Wenceslau

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[um budista de direita não tem por onde se iluminar, sequer tem condições de contemplar a realidade.

tô só comentando]

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[gente
e se todo mundo filmasse uma transa e jogasse na net?

banalizemos o choque
assim a gente vê se renaturaliza o natural
e ninguém mais se espanta]

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dançarei nos cangerês do mar na respiração das folhas que se agitam ao vento no trabalho protelado dançarei sobre o trabalho protelado sobre o trabalho alheio sobre meu próprio trabalho dançarei sobre a palavra-moda procrastinação e farei com que a dança se estenda ao fundo das ondas ao fundo das faias ao fundo dos nãos e das dordecabeças

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nem mercado
nem academia

praia

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um estudo em concreto: amor, parte VII

"Borboletas-monarcas, descobrindo-se vivas,
Ela embriagada com o vapor da terra, e ele
Embriagado com ela [...]

Ela o ignora
Enquanto ele se acerca, pela direita, pela esquerda, alvoroçando
As asas abertas, bafejando a penugem dela
Com sua aragem perfumada, agitando as padronagens,
Seu apelo pavonesco e tropical de artesania,
Aventurando-se mais perto, sobre cada lâmina de folha,
Tremendo como inibido, bem perto de tocá-la –
E ela outra vez vai embora, vacilando sem noção nenhuma."

ela o
ignora
ela
vai embora
ele
vai atrás

o amor é não ter paz
senão co'as asas
redobradas
sobre o
outro
dia
o amor era universo

hoje
o amor é padrões fractais na asa de uma borboleta que voa
atrás da flor que voa na flor e que pousa

amor, em espanhol, é mariposa

e ela
mora
numa
boa
no
amor

("Duas borboletas-monarcas", Ted Hughes traduzido por Sérgio Alcides)

Um comentário:

  1. ola Leandro todo bien supe que anduvistes por Pelotas la ciudad donde vivo soy uruguayo y tengo algunos poemas en español y en portugues me gustaria saber si podes darme una avaliacion concreta de mi trabajo concreta y real claro te mando mi blog gracias
    http://gargulasdark.blogspot.com.br/

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