terça-feira, 26 de novembro de 2013

O Cadafalso

abriram-se as porteiras
do inferno

é o que diziam
o carrasco e a comitiva
que ali ouviam gritos de dor

abriu-se a tampa do
cadafalso
mas nenhum passo
nenhuma queda
sequer brotou
naquela terra
empoeirada

nenhuma bruxa foi
degolada
nenhum ladino teve suas mãos
jogadas longe
nenhum alforje naquele dia
foi devolvido

porque o príncipe de todos os mendigos
morto de fome
roubara a tampa do cadafalso a forca e o gume
da guilhotina

vendeu a piratas na beira do mar
e alimentou a família

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pelo exército na rua
na tua
rua
nas duas
esquinas
da tua
rua

e que tu não saia por aí desfilando ignorância
como se fosse uma criança no sete de setembro

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a sina da antropologia no século XXI:

viver em contato com tudo quanto é papo errado sobre o mundo, sociedade, hábitos, posições e dinâmicas políticas, categorias e ações de preconceito, opiniões e achismos fortes
que na internet ganham poder de fato, de teoria incontestável, de verdade analítica.

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[vai ver tô ficando velho e recrudescendo aos tempos de amor cortês

mas gosto de ver gente casada e feliz

- gosto de ver gente feliz sem casar, também, mas não é disso que falo agora -]

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28 pecados capitais

modernidade, globalização, aprofundamento das desigualdades e da estupidez

7 pecados já não dão conta

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[o poder da edição
de cortar palavras, substituí-las, reescrever frases, eliminar períodos
tirar o ranço preconceituoso de um texto
o travamento
de fazer com que ele flua

ô puta sensação boa]

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pioneiros bandeirantes desbravadores
todo mundo que chega primeiro só faz merda só traz mortes dores sofrimento

ir com calma
chegar depois
não
ter
pressa

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um estudo em concreto: amor, parte (acho que) XIV

o amor não é clichê
o amor é mais
perto do amor clichê parece
david lynch vanguarda pop art inovação tecnológica radical
perto do amor
clichê é nave espacial

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brigada macunaíma
guerrilha muiraquitã

que é melhor ter nenhum-caráter do que ser mau-



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brasil não é o país do futebol
país do futebol é inglaterra
brasil é o país da discriminação

bate um bolão

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[Ensinando a quebrar discurso de preconceito implícito: passo três, derivação verbal

"escravidão": substantivo naturalizador de condição

"escravização": substantivo derivado por sufixação. Processo. Substantivo derivado de um verbo (escravizar); de uma ação (escravizar); de um absurdo (escravizar).

Desnaturalizar o discurso. Porque: naturalização = o Mal]

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[Ensinando a quebrar discurso de preconceito implícito: passo dois, adjetivação

"Ao término da Segunda Guerra Mundial, passa a existir um movimento mais amplo em favor do processo de autodeterminação dos povos coloniais." = não.

"povos colonizados"
ou, melhor
"territórios colonizados"

povos coloniais = naturalização do processo de dominação externa
naturalização = o Mal.]

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furar os olhos da ignorância
para que ela não se torne
ponto de vista

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[Ensinando a quebrar discurso de preconceito implícito: passo um, tempo verbal (parte II)

"As várias modalidades de animismo são caracterizadas pela crença e adoração de espíritos que estariam presentes nas mais variadas manifestações da natureza."

que "estariam" presentes

ou seja: nazistas "pertencem" a uma raça superior (mesmo que "supostamente superior")

espíritos "estariam" presentes.

entendem?

preconceito. implícito.

nada como o arianismo cognitivo...]

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[Ensinando a quebrar discurso de preconceito implícito: passo um, tempo verbal

"Os adeptos do nazismo acreditam na existência de uma raça superior à qual pertencem (a ariana) e, por tal razão, julgam poder submeter e exterminar as “raças inferiores”."

"Os adeptos do nazismo acreditam na existência de uma raça superior à qual pertenceriam..."

Pertencem = não.
Pertenceriam (se pertencessem) = sim.
Mas não pertencem. Portanto: pertencem = não.]

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[pensando

ninguém "celebra sua cultura"

quem "celebra" cultura é o de fora, "celebra" cultura alheia

!hey, vamos comer sushi, hoje. Sou tão japonês

quem "celebra" cultura não vive a cultura

no brasil, carnaval não "celebra" cultura
celebra bunda, cerveja, samba, trepada, dormir no meio da madrugada ou nem dormir

quem "celebra" cultura é o colonialista, a globo e o mec]

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gente
poesia não
existe

eu sei que é um
problema

o que existe é o poema

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a www
tá cada vez
mais kkk





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vocês
ó só
cês prestatenção

eu tô já por aqui
até as tampa
eu tô
de ter que repetir

vocês
ó
ouve
ouve
porra
ó

vocês

diacho
fugiram

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natureza humana
não

pessoa humana
não

condição humana
ok

tipo uma doença

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as palavras ficam
na ponta
dos pés
e te beijam
e tentam
te beijar
as palavras

diabos
não dá
tu é grande
demais

as palavras ficam
na ponta
dos pés
as palavras
cansam

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negar o absurdo
do mundo
absurdo

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[Declaração Universal (sic!) dos Direitos Humanos

"Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra tirania e a opressão"

ou seja: quando o Estado não garante nada que preste, o homem (e a mulher, e os transgêneros, e etc, mas não atentemos a isso, por ora) tem a obrigação de se rebelar contra a opressão.

a obrigação. de se rebelar. contra a opressão.

pessoalzinho das direita, aprendam: tá escrito. É lei. Vidraças de banco e discurso da mídia não podem parar a Declaração das Nações Unidas. Sinto muito. Legalismo por legalismo, sou mais o que liberta.]

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supremacia branca
bancada ruralista
bancada evangélica
tecnocracia burocrática

os quatro cavaleiros do agoracalipso

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triste
é sereurocêntrico no século vinte

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quis falar de amor
eu quis
ser sincero e verdadeiro eu
quis
mas não cheguei até paris
onde ele está
não fui, não pude

entupi-me até o rim
do amor que vi em holywood

[da série, que inicia agora e talvez não siga: o amor é um brownie]

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é preciso
ser
preciso

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desbanalizar o zen
banalizar o zen

calar quando quiser falar
do zen
sentar
quando quiser calar o zen

respirar

e não
encher
o saco

deixar de acreditar que o literato
compreendeu o zen

quebrar essa tendência
essa influência
essa demência
de achar que bem se sabe o que se não

poema curto não é haikai
eu meu avô meu filho não sou meu pai
ler charadinha não é koan

viver a vida como quem
na esquina
descasca sem pressa uma romã

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No meio do jardim de meu pai, que ele herdou do pai quando o pai morreu, estávamos Rosana e eu sentados num fim da tarde. Passava. O tempo, o papo, a dor, passava entre a gente o vento e eu, levantando, andei ao canteiro de cimento enquanto Rosana não. Rosana respirava. Olhos fechados, respirando, Rosana ressonava, dormia ali no jardim de meu pai, que ele herdou do pai quando o pai morreu, Rosana aproveitava ali naquele momento que eu me distanciava. Respirava.

Havia tempo eu não via o jardim de meu pai, o canteiro de cimento de meu pai, havia tempo demais que não via o que plantara meu pai quando herdara o jardim de seu pai quando o pai morreu, meu avô, o meu. Havia tempo, e agora via, andando ali enquanto Rosana dormia, o vento passava, o tempo soprava, as dores cantavam em harmonia, agora via no jardim de meu pai que meu pai herdara da morte do vô, agora via brotando uma flor. Em couve. Havia brotado uma flor.

Não houve, no resto da tarde, nem Rosana nem vento nem dor nem tempo nem sonho nem cimento nada que se igualasse àquilo. Brotara uma couve no jardim de meu pai que meu pai herdara de meu avô. Brotara e brotava uma flor.

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p_o__ema

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o papel do intelectual
na contemporaneidade
é um papel timbrado e assinado
pela capes

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[tô convencido
é só falar de amor que cês tudo fica igualzin ouriço

tudo atiçado tudo
a gente é um bando de medievo bruto

poema de amor vende mais que cerveja em carnaval]

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todo corpo é
qorpo santo

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quando eu disse assim
te amo
eu não mentia
exatamente
eu não mentia
eu só por um acaso
não sabia
quanto dano
um eu te amo
a nós traria

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crianças
não briguem

adultos
não brinquem

respeitem uns
os papéis sociais
dos outros

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