Sou meio disléxico. Algumas palavras simplesmente não me dizem nada. Houve numa praça, pouco tempo atrás, uma marcha. Pela liberdade. Marcha da liberdade, diziam. Disléxico que sou, não sei o que liberdade vem a ser.
Pessoas bonitas e nem tanto levavam cartazes, indignadas pela falta de liberdade, pela opressão. Numa praça. Pública. Pessoas que já conversavam com a polícia, antes, para manter a ordem, dar número de RG e posar para foto do jornal. Marcha pela liberdade.
No outro canto da praça circular um mendigo dormia. Vi a viatura da guarda municipal subir na calçada, subir as escadas e dizer ao mendigo "FORA DAQUI". A viatura era brava, cumpria ordens e não deixava o homem dormir.
Do lado de lá, pessoas bonitas erguendo cartazes.
O mendigo fedia, tinha muito sono e pouca dignidade, naquele momento. Cheguei perto, entre ele e a viatura, porque eu não sou de levar cartazes pela liberdade.
Do lado de lá, pessoas encenavam alguma coisa. Não pude ver, estava ao lado do mendigo sonolento. A viatura foi embora, olhando feio, o mendigo levantou aos poucos, dobrou coberta, vestiu mais roupa, pegou a mala e saiu pelo frio afora.
- Ei! - disse eu - os caras não te deixam dormir? Fique aí, meu velho. Deite ali do nosso lado. Lá eles não vão te importunar.
- Não. É foda. Deixa. Vou andar pra lá. Essas pessoas aí na praça não iam me querer perto delas.
Sou disléxico, eu disse. Liberdade é um bairro em São Paulo.
Acho que também sou Disléxico
ResponderExcluirUma amiga minha comentou que a Marcha das Vadias em São Paulo desceu a rua Augusta só até o teatro do CQC. Não quiseram alcançar as putas profissionais...
ResponderExcluirgostei
ResponderExcluirnão é verdade que somos todos pobre negro puta viado travesti
ficou bom pra caralho, Leandro. Ficou bom de verdade.
ResponderExcluirIncrível a forma com a qual tu consegue prender o leitor. Texto gostoso d ler, sabe?
tu deveria reunir todas as cenas e publicar, sério mesmo. [:
gab