Os dele não foram os primeiros olhos cegos que vi na vida, mas foram os primeiros de um amigo. Dias e dias, anos, cafés, leituras, conversas. Aqueles olhos sem óculos me fitavam sempre, ainda que não enxergassem.
Há um movimento engraçado no olhar dos cegos. As pupilas azuladas, retinas buscando sempre o alto, o balançar rápido pra todo lado. Há um movimento infinito nos olhos cegos que eu, nos melhores dias, não enxergo de todo. É como se olhassem o mundo inteiro de uma vez só, todo o globo.
Hoje, andando neste mesmo mundo, a cada esquina que esbarro com um cego penso logo em meu amigo. Se os olhos estiverem a descoberto, então, ainda mais. Cada par de olhos cegos que vejo agora, com sua nudez para fora em sóbria dignidade, são os mesmos olhos que os dele.
Cegos, a cada esquina esses dois olhos preenchem tudo.
lindo!
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