Fiquei quase dois anos com certo ranço, preconceito, algo estranho com relação a Portugal. Sei lá por quê. Preconceito, deve ser. Mesmo morando aqui, Portugal ficou um tempão no meu imaginário como vizinha velha, dono de padaria, fado, personagem de piada e colonialista safado.
Mas tem mudado, começo a perceber. Primavera, trilhas montanha acima, Tejo banhando a vista, ruína velha. Até fado, veja você.
E o passado. Passado medieval, cavaleiros, reis, castelos e guerra antiga. Mouros, visigodos, tradições célticas, sítios arqueológicos mais velhos que andar na pedra. Talvez por ser a figura de nosso Pai, de certa forma - e a dada altura - olhamos pra cá como quem olha um velho errado. Colonialista safado, como mencionei.
Fica a sensação de que a Europa mesmo é tudo que não seja aqui. Mesmo o passado que a gente romantiza, romance de cavalaria e távola redonda, tá sempre tudo à volta e não na terra lusa. Mas não sei, sei não. Diz o Ariano Suassuna que Rei Arthur é patavina, pois temos Dom Sebastião.
Toca um fado novo enquanto escrevo. Os ares mudam. Qualquer hora o Desejado volta aí.
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