sexta-feira, 16 de setembro de 2011

crônicas do metro


Ele sentou no metrô bem no ponto final. Dali só havia um sentido pra ir.

Esperou. A última parada demora mais que as outras, o trem se lotando aos poucos com poucas pessoas entrando. Esperou, descalçou os pés e apoiou na poltrona da frente, esticando as pernas.

Entrou uma moça, loira bonita vestida de branco e com os olhos tapados por óculos negros. De sol. Pouca gente no vagão quase ninguém ela foi e sentou bem de frente pra ele, uma poltrona além. Para trás. Na frente exata ele tinha os pés pousados, ela não sentaria aos pés dele, não seria educado.

Tirou os óculos de sol e enxugou o suor da testa. Ele viu que em volta ao nariz, onde os óculos pousam, duas marcas fundas avermelhadas tinham ficado marcadas. Os óculos passaram muito tempo ali, pensou ele, ou o nariz dela inchou, não sei.

Sorriu para ela quando ela olhou, indicou o próprio nariz com a ponta do indicador e ela percebeu o que era. Sorriu também, mei sem jeito. Alisou o nariz e pegou num espelho. Sorriu de novo pra ele, agora que vira as marcas.

Ele sorriu. O trem partia em segundos, pessoas entravam ainda, o trem partiu da estação final rumo ao único sentido possível naquela situação. Ele olhou para ela, que mexia em algo na bolsa, no colo, algo assim.

Ele deixou de olhar. Ela olhou, então. De repente. E ele notou. Ele olhou de volta, ela continuou. Os olhos se olharam, ele sorriu, ela também, dessa vez sem ninguém sorrir primeiro, antes do outro. Os dois sorriam e uma estação depois ainda se olhavam.

Ele saltou em uma estação qualquer antes dela, que foi até uma estação qualquer depois dele. Ninguém sabe pra onde, ninguém sabe quando, ninguém sabe nada.

Subindo as escadas ele pensou se a veria de novo, um dia.

Ela, no trem, tocava de leve a marca ao nariz e sorria, pensando se um dia o veria de novo.

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