Almoço. Baião de dois com queijo típico português. Meu grito do Ipiranga nas beiradas de Lisboa.
Minha avó deu a meu pai um colar de ouro, de estrela, benzido em pai de santo. Num exu, bem da verdade. Isso faz tempo. Hoje o colar é meu, meu pai me deu antes de eu seguir. Era Exu Seu Tiriri, o exu, dos primeiros amigos que tive que eu lembro. Ele e meia dúzia de crianças mortas. Ou desencarnadas, como queiram.
Hoje ando por aqui com a estrela amarrada no peito. Umbanda andando em território português. Típico, eu sei, feito o queijo. Além disso tem ciganos, indianos, a comunidade de África e metade da China aqui. Andando pela rua de noite, pegando vielas sem muito sentido, cai-se em bairros mais ou menos proscritos por serem migrantes. Imigrantes, de fora. As casas antigas malacabadas, fachadas descascando em torno da janela de onde sai um pai gritando ao filho que de bicicleta vai pra longe algo como "volte aqui", mas em hutu. Não sei se era "volte aqui", mas devia ser. O menino logo voltou.
Lisboa à noite é sem turistas, ao menos pela semana e ao menos fora das zonas turísticas de festa à noite. Cidade de imigrantes que ocupam vielas velhas onde nasceu o fado, Pessoa, onde morreu Amália e onde ainda talvez um dia chegue Dom Sebastião. O Desejado.
Independência ou morte, certa vez disse um português. Gritou à beira rio quando voltava da cidade onde Nasci. Santos, vocês sabem. Hoje, em terra dele, ouço pela janela pouco mais que um ou dois carros, vizinha gritando qualquer coisa que não entendo e o barulho imaginário do rio lá do outro lado.
Supõe-se que hoje eu sou livre.
livre, em todos os aspectos, com certeza
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