Quando soube que seria demitida, não lavou a roupa.
No último dia de trabalho trabalhou o dia inteiro, a meia velocidade. Esfregou o mármore com desleixo e derrubou um pote de dentro do armário. Era de plástico, não quebrou, mas o arroz caiu quase todo. Sobrou um pouco. Não cozinhou.
Encheu um balde dágua e foi ao banheiro, varreu vagamente e molhou o azulejo. Em alguns cantos sobrou sujeira, pó, mas podia estar pior. Então, que seja.
Obviamente não limpou os vidros das janelas, mas teve a decência de abrir as cortinas e deixar o ar entrar. O vento atrapalhou a passagem do aspirador, então certas poeiras mudaram de casa. Na mesma casa, foram para outro cômodo.
O patrão estava fora. Ninguém falou uma palavra o dia inteiro. Exceto ela, sozinha com seu telefone.
Quando chegou na própria casa não limpou os sapatos no tapete de entrada. Fechou a geladeira com a mão gordurosa de banana. Sentou no sofá sem trocar de roupa. A blusa amarela estava manchada de vinho, tristeza e água sanitária.
Quando soube que seria demitida, não lavou a roupa.
Conto com causo cotidiano
ResponderExcluire um misto de sem palavras,
pois nao me vem adjetivos que
transpareçam a realidade do que
quero dizer.