sexta-feira, 30 de setembro de 2011

empregada


Quando soube que seria demitida, não lavou a roupa.

No último dia de trabalho trabalhou o dia inteiro, a meia velocidade. Esfregou o mármore com desleixo e derrubou um pote de dentro do armário. Era de plástico, não quebrou, mas o arroz caiu quase todo. Sobrou um pouco. Não cozinhou.

Encheu um balde dágua e foi ao banheiro, varreu vagamente e molhou o azulejo. Em alguns cantos sobrou sujeira, pó, mas podia estar pior. Então, que seja.

Obviamente não limpou os vidros das janelas, mas teve a decência de abrir as cortinas e deixar o ar entrar. O vento atrapalhou a passagem do aspirador, então certas poeiras mudaram de casa. Na mesma casa, foram para outro cômodo.

O patrão estava fora. Ninguém falou uma palavra o dia inteiro. Exceto ela, sozinha com seu telefone.

Quando chegou na própria casa não limpou os sapatos no tapete de entrada. Fechou a geladeira com a mão gordurosa de banana. Sentou no sofá sem trocar de roupa. A blusa amarela estava manchada de vinho, tristeza e água sanitária.

Quando soube que seria demitida, não lavou a roupa.

Um comentário:

  1. Conto com causo cotidiano
    e um misto de sem palavras,
    pois nao me vem adjetivos que
    transpareçam a realidade do que
    quero dizer.

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