quarta-feira, 7 de setembro de 2011

mexicana

- Você viaja para reviver seu passado? – era, a esta altura, a pergunta do Khan, que também podia ser reformulada da seguinte maneira: - Você viaja para reencontrar o seu futuro?

E a resposta de Marco:
- Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá.

(Italo Calvino, As cidades Invisíveis)

Morde o pêssego e pensa na menina. Ela é de outra terra, de longe, ele também. Mas os dois da mesma terra ficam cada qual num canto. Os dois da mesma terra em terras longe.

Quando a conheceu estava de partida. Ele. Ela não, ela ficaria. Mas ficaria num ponto tão distante do destino quanto da terra natal. Dele. Entende? Ele a conheceu quando partia de A a B, enquanto ela permanecia. Em C.

Era como se um estivesse no Brasil e a outra, sei lá, Japão. Longe.

Mas ambos da mesma terra, eram.

E se iam reconhecendo um pouco, de pouco em pouco, enquanto lembravam do que ficara nas infâncias do pensamento. A cada estação de trem, a cada metrô, de ponto a ponto da linha ferroviária do mundo todo os dois se lembravam, como quem acha dois euros no troco da máquina de café.

Ambos os dois contavam histórias, mas ele calava mais. Ela falava, chutava areia na praia ou no deserto do Egito antigo. Ele só lia livros, olhava as ruas e caminhava. Ela falava, mas também nem sempre.

Tinham uma coisa com livros antigos, sentimentos antigos e com velhos espíritos. Mas nenhum dos dois sabia bem o que tinham.

Não sabiam, mas falavam do mesmo jeito. A cada palavra nova a cada história um pedaço dela saía de trás da cortina azul. Ele não tinha cortina mas parecia estar sempre de costas, então cada frase nova girava-o um pouco mais. Ela descortinando, ele encarando de frente o futuro de sabe deus quê.

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