domingo, 25 de agosto de 2013

profeta
é
poeta
do futuro
porque ele tem
mais letras
sol
i
lo´
qu
io
teus olhos são
dois absurdos
abuso de luz consolidada
teus olhos me
olhando
veem nada

eu quando te olho me ofusco
per
forma
nce

roma
nce

amor
l
ance
o que eu bem gosto nela é algo que ela
nem sabe
o que eu bem gosto nela é que ela é bem
de verdade
sabe? Ela assim
tem a pele do rosto o riso o cheiro de vida
quando acorda ela é assim, de verdade
mas ela nem sabe que o que eu
bem gosto
nela é essa coisa de parecer alguém
que nasceu cresceu brotou desceu do céu
enfim
o que ela bem nem sabe é que faz bem
justamente por ser assim como eu nunca
pensei que pudesse
ser
sabe?

quando ela chega e me vem com duas dúvidas carregadinhas de maduro
nas mãos quando ela
sorri sentada no chão sem saber o que eu
estou fazendo ali também aqui sentado olhando
eu confesso que por instante nem eu também não sei
é difícil saber
quando à minha frente o que vejo
o que toco
o que cheiro
o que sei
é que tem uma mulher de verdade
e não uma que eu criei
deus me fez e disse
vai, filho, tirar o pai da forca
vai, filho, fazendo os trocadilho
pular de tua boca
vai, filho
da puta
sai
daqui
e luta
a vida
melhora um dia
atrás do outro
até que acaba

---

triste'm
trieste

---

nível de la
mentabilidade
lá na nuvem

---

imbecilidade grassa
sem graça alguma

microcrítica literária: Jorge de Lima e a angústia no tempo

por muito tempo, antes durante e depois de meu mestrado, vi no Jorge de Lima católico-da-retomada (ali em Tempo e Eternidade) um angustiado sem saída que não fosse a mão do Pai, a metafísica e a morte.

Mas agora, escrevendo o texto de um espetáculo infantil, quando faço o Vento declamar:

Lá vem o vento correndo
montado no seu cavalo.
Nas asas do seu cavalo
vem um mundo de vassalos,
vem a desgraça gemendo,
vem a bonança sorrindo,
vem um grito reboando,
reboando,reboando.

Percebo que idiotice a minha, que estreiteza e limitação. O sexto verso de Jorge diz claramente: lá vem a bonança sorrindo

no tempo. Independente do século podre, independente da morte, da noite, dos vassalos gemendo ou de tudo. Lá vem a bonança sorrindo. A angústia sempre esteve prenhe de anunciação.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

liberdade não é pouco
basta
mas é difícil

basta
vai por mim
.liberdade.
o nome encaixa
melhor pe¿ar pelo
ex¿esso que
pela falta

banalíssima

encontro no pendrive um documento antigo, um pdf. uma passagem. a reserva, bilhete aéreo. de um país pro outro. de um pro qual fui só por ela e de outro do qual eu vim-me embora. também por ela, mas não só. um bilhete perdido um arquivo papéis velhos rasgados. o registro de checkin da bagagem que saiu de londres hoje dorme no aterro de são vicente. ou de alguma outra cidade sobre a qual a minha despeja seus dejetos. sobre mim, despeja o tempo os seus também.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

uma narrativa

Procurei uma mulher bem-resolvida. Encontrei. A mulher bem-resolvida que achei bem resolveu. E me deixou.
eu queria conseguir
pensar
eu pretendia que fosse
diferente você entende?
eu pensei que con
tinuaria assim cons
eguindo pensar eu ten
taria tentaria estou a
té tentando mas não


submerjo

---

estou-te esperando
chegar
disse ele à noite
disse ele à morte
disse ele à foice
disse ele à sorte
disse ele -há noite
disse ele -há morte
disse ele -há foice
disse ele -há sorte
disse ele a ela

e agradecendo às flores
colheram ambos
a primavera

---

quando a resistência à polícia começar a ser até a morte
ali, nos terreiros abertos no meio das gentes
quando a polícia começar a matar antes de levar pra matar
a polícia acaba
ou acaba nós

não ir em cana não ir detido
morrer antes
morrer livre
à vista das câmeras

---

uma ideia é
concreta
quando voc
ê bate a cuca
na parede

---

a grandeza infinita do saber-se apenas
não valer a pena
o saber-se nada

---

cês são tudo muito
moralista cês são
tudo muito absurdo
cês são foda cês todo
cês toda são tudo foda
e cês nem goza

---

não é um diálogo se
você não pode falar
mas tampouco se não
ouve
[encontrei minhas revistas pornô
as que me serviam uma década atrás, ou mais

e finalmente reencontrei a contracapa que mais me distorceu a competência semântica na vida. Transcrevo:

"Tori Welles
a estrela cosmopolita
(quer dar
para o
mundo inteiro)"

passei anos - ANOS - julgando que isso era ser
cosmopolita

e ria baixinho
sozinho
quando ouvia dizer de São Paulo, New York,
de Tokyo:

cidade cosmopolita]

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

eu te vi numa janela de veneza
- eu não costumo, veja bem
escrever poemas assim poemas de
amor eu não costumo
veja bem
ainda que eu escreva
ainda que sempre gostem
eu não costumo escrever, veja bem -
mas nesta noite
eu vejo o teu corpo contra as águas
o canal de veneza rebrilhando
a luz entrando a cor das casas
a moldura de uma janela italiana
em que te vejo
eu me aperto
aperto o peito respiro aperta
o peito a imagem do teu jeito
olhando baixo ouvindo as águas
os canais
atrás das casas pela janela de veneza
em que estás
em que estiveste
em que me deste um breve olhar
sobre mim mesmo
veja bem
meu peito é tu numa janela de veneza
ba der
neiro
ca der
neta
ca der
neta
car nê
do ba ú
do ba
do ba
ba der
neiro
ritmo
é quando o tempo
ri
tu não
sabe mas tu
não larga do
meu
coração
um antropólogo
tradutor é um
mago
em dobro
como um avô é pai
duas vez
não sei vocês
nem vossa irmã
mas hoje acordei xamã
não é um diálogo se
você não pode falar
mas tampouco se não
ouve

terça-feira, 20 de agosto de 2013

vórtice
turb
ilhão
escrevendo agora de uma
sereia
com essa mão
eu faria a coitada afog
ar
na areia
meu livro organizado
está no prelo está no
fato ok agora há
agora vai um livro
meu vocês vão ver
vão ler se houver um
pouco de paciência
meu livro está no
prelo do futuro
escrever é como
uma nãocomparação
escrever é uma metáfora abulante
se civilização fosse boa, bárbaro não era elogio
poesia
fala
por
tanto
muda
eu tenho um feeling
pra essas
coisas
eu tenho tato
pra essas
coisas
eu tá tu eu tenho
tu também
tá bom, eu sei
feeling
Globo,

você não presta.

Atenciosamente,

comunidade global.
ela
sobre
ruína
grega
vento
lendo
voa
mar
ela
como a liberdad
e é difícil
lá is
so é
verd
ade
alegria é a prova dos nove
no matriarcado de pindorama

e minha ilusão foi que naquela terra
no velho mundo
ela pudesse entender isso
por um segundo

pode nada
oswald de andrade
a tropicália
pode nada

nu'entende não
não entendeu
sobrou pedaço pra lá
sobrou pedaço pra cá
sobrou eu

a tristeza teu porto seguro
e mesmo que esteja aqui
agora eu segurando
a tristeza é teu porto seguro
não é o meu
leu na veja, azar o nosso
mas que diabo de mulher
bonita
I was told I am a sjaman
a cloudteller
a deep root inside
the earth
within the world

I'll tell you what my word
is
my word is time
pode ser que
no fim

mas falta

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

cena banal

não é a última, mas acaba de acabar uma garrafa das que trouxe da europa. É fim de ciclo, quando a última gota escorre boca afora, dentro o copo, boca adentro, é fim de ciclo e de um tormento que se evola como álcool. Aos poucos. Embriagado. Como o efeito que bem lento vem e bate. Sem alarde. Só dormência e uma latência que se espalha, primeiro extremidades. Depois o corpo inteiro. Um corpo colocado na garrafa. A alma engarrafada. A vida, aqui, como numa arapuca de caçar saci. Como na época em que sacis podiam ser caçados. Como na época em que. Como na época. Fico sem mais trago, sem bebida, sem o pito do preto perneta safado. Sou nem metade do trickster que um dia fui. Meu rodamunho não parece aparecer. E eu derreto, nos últimos goles que escorrem para dentro. Lentamente. Como a vida.
a folhinha calendário disse a mim
vinde
que hoje seria dia da vocação sacerdot
al, religiosa, e coisa e tal, algo assim que eu bem não soube
-a folhinha era u'a católica, eu não sou, mas acredit
ei- e hoje depois de meses, depois de seis,
sentei-me quieto ali quieto eu a meditar
e meditei
as pernas doendo e mortas e tanto e tortas cruz
adas as pernas quietas as costas retas os
braços tensos e tenso o rosto
descanse solte relaxe um pouco
e meditei
e hoje eu não sei
da vocação que chama
que vela hoje eu não sei se
ela já foi mesmo mi'a vocação ou se então vir
á eu não sei mas o que sei
é que meditei
e depois à noite ao falar à toa co'amigo ateu
eu pensei
que talvez u'a boa coisa podia ser
eu voltar
ao que comecei
qualquer vocação em que possa
eu
fazer algo bom
por aí afora, pros irmão e irmã

eu não sei qual
na folhinha calendário
vai ser o dia d'amanhã

domingo, 18 de agosto de 2013

- Tá fazendo aqui?

- Que é?

- Tá fazendo aqui? A rua, po, tá fazendo aqui?

- Até tô, por quê?

- Porque se tiver fazendo eu saio fora. Se tiver, ent... Beleza então, então eu saio fora.

- Ultra-ga-aaaz.
[aí
depois de reclamarem da igreja
vêm reclamam de mim porque bicho tem alma sim
e eu nisso não acredito
cristo!,
fico nas dúvida se eles sabem
que quem inventou esse troço de alma
foi tudo padre]
não sei se to
das as péta
las dessa flor for
am arr
ancadas
mausoléu é um
museu de quem
já foi também
pro céu
eu sou o desgosto
e a saída de emergência a obturação
o som agudo o motorzinho os fogos de art
ifício do vizinho quando chega o caminhão
no morro as drogas o carregamento o tiro a pólvra
as coisa que faz mal eu sou o louco a dor a sede a vida a ida
a gente eu sou o intragável toque alerta o celular despertador sou
a soneca que acorda antes da noite se pôr eu sou o andarilho sujo o surdo
o escuro na esquina da cidade a madrugada perigosa o que se es
conde onde chove a chuva ácida a pele ressecada frio o pou
co amor pouco carinho a ponte despencada sobre o rio eu
sou a mola desgastada carro tombado na estrada
o atropêlo em acostamento o doente amalu
cado a tentativa de ajudar
eu sou o morto

sábado, 17 de agosto de 2013

pelo século seculoro te procuro
mas é claro
que no século seculoro faz escuro
não te acho
- Esse é o último. Ah!, agora sim. A-go-ra sim. Hehehe. Agora sim.

[...]

- Ei!, ei!, Ismael, que porra é essa? Ismael, Ismael, pára! Vai queimar... Não, cara, pára pára pelo amor de...

- Que foi, que é?

- Porra, Ismael, pra que isso? Pra que fazer?

- Fazer o que, meu nêgo?

- Ah, Ismael, pelo amor de Deus. Tu não tá vendo? Não tá vendo o fumacê todinho nessa casa, não tá vendo o fumo? Pô, Ismael. Cara, que diabo, que que foi que tu queimou? Aquelas provas? O laudo médico? Seguro do carro? Mas que diabos...

- Queimei o quê? Nada, nêgo, essas coisas tão tudo lá, cima da mesa. Tu não viu não? Tavam na entrada. Deixei do lado de uma porrada de correspondências que vieram pra tu. Pode ver lá, tá tudo. Tudinho. Mexi em na... Ei!, para de cutucar a brasa, seu maluco. Vai se queimar.

- Deixa, deixa, vou ver o que que tu...

- Vai ver nada!

- Porra Ismael! Teus contos, cara? Teus contos, sério? Cara, pelo amor, cara, que que é isso? Pra que isso? Ismael, mas que inferno, por que jogar nessa chu... Porra, Ismael.

[...]

- Eu queria uma lareira.

- Como é que é?

- Uma lareira. Sabe? Uma lareira. Queria uma lareira. Queimar as coisas na churrasqueira não é tão chique assim.
- Como assim, quero teu baço?

- Braço, mula, braço! Eu dou a mão tu quer o braço, dou um abraço tu quer tirar minha roupa.

- Ah, vá! Nem é assim.

- É sim, é sim senhor. Quer fazer um favor? Larga daqui.

- Daqui de onde?

- Daqui, ô gênio. Larga, larga.

- Tá, tá bom. Pronto, ó, mãos livres, mãos ao alto.

- Também não exagera.

- Exagero? Eu? Tu diz que já quero te estuprar.

- Ora, que absurdo. Nunca disse isso.

- Pois ensinuou.

- Ensinei nada, tá maluco? Desde quando alguém de bem ensina estupro?

- Ensinuou, besta. Ensinuou com esses quer-tirar-a-minha-roupa. Tá louca, tu, isso que tá.

- Ué, e não tá não? Tu não tá, cá entre nós, quatro paredes, só entre a gente, tu não tá não?

- Tô o quê?

- Querendo tirar a minha roupa, ora porra!

- Claro.

- Ótimo. Segura a blusa, aqui, que fica mais fácil pro sutiã sair.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

mechelen

I feel your bright eyes
I feel
and the sky is running across the skies
with clouds and gray times
but hopeful times too

when I think about you
when I remember the shore
the station
the sun at the grass back in the abbey
when I think about you I feel
your soul

love is not something
it is not
but I'm pretty sure that I don't know
what it is
Se tu estiver feliz
If you are happy
with your someone else
I'm with you too, both of
you
sharing your happiness and
joy

and your bliss
the bliss you gave me
before I left your land
the bliss
is still with me
forever

I think of you
- I feel of you -
that you're magic
sacred
beautiful
and I'm glad and thankful

cena da mais banal

uma linha de nuvem branca corta o céu, paralela ao morro, lá longe perto onde eu moro. Jackson do Pandeiro toca enquanto eu escrevo e-mail e tento fazer, daqui pra fora, o que já fiz por dentro. Um curso de imaginário e literatura, um encontrão de literatura e livros, um espaço de cultura tomando forma, poesia e imaginário, poesia budista. Viagens, Rio de Janeiro São Paulo Minas Gerais. Alagoas e Sergipe na cabeça. Pernambuco sempre. Jackson toca. Bandeira, evocações. Amigos sumidos cachaça, cachaça, cerveja, hoje talvez. Abre-se a pasta dos textos guardados: edição de um macaco, um boneco literário, uma poesia em pdf - mobi, epub. Convites, convidações. Evocações, comparecenças. Poesia é uma água vadia, suja de lama da vida. Mas não é vida, como não é água a lama de ontem que ainda agora anda na minha calça. Calçada. As malas estão na calçada, na beira da estrada. Mas tudo bem, estrada é a vida.
hoje é um bom
dia
dizia o sol da manhã
a cada dia passado

a cada dia passado
dizia o sol da manhã
dia
hoje é um bom
tempo

tempo
hoje é um bom dia
dizia o sol da manhã

e a vida seguia

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

postit 17

campo de estrelas
estrelas de nêutrons
prótos acesos
e bailarinas

o que me ilumina
são fusões por dentro

postit 16

a mesma estrada que vai
volta
os pontos conectados

o longo e escuro e denso
caminho de asfalto e frio
me leva daqui pra longe

mas esse mesmo caminho
o chão, vereda e estrada
que levam daqui pra longe
também me trazem pra casa

pisando a estrada seca
pensando no ir embora
eu passo a olhar as cercas
os campos, as madrugadas
montanhas, cascata e rios

deixo pra trás estrada
pisando na estrada à frente
e mesmo quando acossado
rio

postit 15

o tempo que faz erro é outro tempo
o tempo que escorre em lamento
nunca pára
o tempo é coisa rara que ocorre
a cada hora
e muito mais, ainda
de minuto

postit 14

voltar não é voltar
voltar também é ir
o tempo do passado é outro tempo
vivendo o agora agora
vivendo aqui, pequeno instante
hora que passa
o ir daqui pra lá não é voltar
mesmo que passe em casa
que passe no caminho
mesmo que acene à mãe
que abrace o pai
ou a irmã
voltar não é voltar
voltar é sempre ir
pralgum lugar

postit 13

cá está
o amor romântico
tenho-o
em minhas mãos

cá está
o coração sofrido
trago-o
no peito dentro

cá, por fim
está o sol
e o solitário
cavaleiro

por favor, alguém em quem montar eu possa?

postit 12

no dia antes do fim
foi tudo atenção e caos
um misto de angústia e paz
mistério sereno e breu

no dia depois do fim
sem terem o que esperar
passaram a perguntar
o que o futuro iria
trazer já no outro dia
dois dias depois do fim

mas eis que chegou-se, enfim
um fim sem ter outro igual
dois dias depois do fim
com todos passando mal
ninguém mais se perguntou
ninguém esperou por nada
dois dias depois do fim
a terra explodiu em lava

postit 11

por que a pressa furibunda?
que fim é esse que se antecipa
que não me leva
e que nem mesmo
nem co'essa pressa
que nem te traz?

postit 10

a vida é vadia e vaga
é massa, concreto e vão
e custa os olhos da cara
fazer-se a operação
que todos precisam quando
ao tropeçar em espanto
caem co's dentes no chão

postit 9

o que vier virá em lucro
mesmo que uma moeda falte
o que vier, que venha tarde
que venha à tarde, que raie o dia

o que vier que desencave
que molhe o solo, que chuva fria
o que vier virá e veio
o que não der
passeio

postit 8

ruptura de temporal
tempo que goteja
vendaval e marinheira
perdida ao cais

postit 7 pra júlia hansen

entre dois outros anos está um ano passado. Vizinho ao reino confortável do que não volta mais. Pra trás ficaram coisas, paredes enevoadas, memórias gastas. Talvez falsas. Ficou o tempo em que ainda tinha muito tempo à frente. Hoje, mesmo tendo, temos menos. E quanto mais tempo guardamos, mais passado, menos espaço sobra pra manobrarmos. O barco afunda. Em 1997 ele mal se lançava ao mar.

postit 6

o passado
é um reino confortável

o passado está
o passado fica
as paredes mornas já sumidas
da memória
tudo névoa
tudo história

o tempo de trás não traz angústia
e o lamento
mesmo torto
é um alívio
do tormento pelo início que virá

os castelos da alma antiga não são ruínas

ruminamos
o sabor desgarrado do vento
compelindo o tempo
à remota solidão

postit 5

é dia
outra vez
é dia e o sol se escora
é dia, manhã, morna
primeira hora primaveril
é cedo
ainda que pouco
é medo
ainda que louco
segredo
ainda que solto

não sei se o café
se úlcera antiga
se minha amiga
a mulher nova
saudade velha
não sei ao certo
o que é que emperra

postit 4

mor
f
eu
caminho
da porta da rua
à cama
e quando lá
chego
me vejo
so
zinho

postit 3

diploma
a pluma
por ser leve
e o puma
por correr

disputa
a puta
por ser bela
e pula
ao saber

que a espuma
fresca
do champanhe
embriaga até o pé

postit 2

meu peito
cinco cavalos de potência
catorze velas
popa rasada
cavalga os mares
torcendo as ondas
secando as vagas
de outros barcos
que se aproximam

cesto da gávea
cabeça em cima

postit 1

a mulher mais bonita do mundo
nem sequer dignou-se a olhar
para o fundo de mim
nem pro raso
pros olhos
a mulher mais bonita do mundo
passou como vento
sem vistas

remendei-me na vida
com as outras mulheres
com a mulher silêncio
com a mulher desejo
com a mulher sentido
com a mulher sem senso
com a mulher perigo

todas elas guardando
nos olhares que olhavam
e que ainda me olham
a lembrança das vastas
iras planícies matas
olhos mesmos daquela
que em mim não viu nada
nem a mim nunca viu
como nem mesmo um nada

terça-feira, 13 de agosto de 2013

cena (que devia ser) banal

depois de muito erro, com muitas delas, teve uma mulher a quem decidi dar um tempo. Ir de light, pegar leve, falar menos, mais espaço, esperar vindo dela quase nada - ou nada mesmo - e sorrir pelo pensamento de que ela está na dela, enquanto eu também. Sortuda. Se livrando, sem nem saber, de todos os meus defeitos.
why are you notnice? Why
are you nothere and yesthere?

---

escritor é um
escriturário
a quem ninguém paga salário

---

olhos olhos
primavera
abraço aberto espera
tempo
recuperação
olhos riso pouco siso não que rima
o céu por cima
embaixo chão

---

me meto em ti adentro
assim não saio de mim

---

?e se eu começasse a
ssim fazer como fez bem
antes de mim o genial
murilo mendes

---

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

pensamento, por quem me t
omas? algum confuso atur
dido andante ou um bailar
ino ausente ressabiad ou algum via
jeiro morto? Por que suf
oca minha casa à noit
e a minha casa já nem s
e mostra? Por quem, pensam
ento, me to
mas?

---

em torn'
do tord'
o ar

---

meu filho
me olhando do infinito
me abençoa
feliz
dia dos pais ele me diz
e meus ais
se expandem no futuro
meu filho nãonascido é um nascituro

---

como é qu
vou eu
agir qu
ando eu
tiver-morr
ido?

---

por su
puesto
o vigia da
madrugada
pôde ver
(deve ter)
a cidade ser
saqueada
mas nada pôde
fazer

---

ela foi meu hospício
sede e serenidade
ela foi alegria foi broto e flor e maldade
silêncio lacrado e carrêgo inclemente
ela foi o buraco na gente
a bala varando a varanda gelada
de neve
ela foi breve
mas foi tanto
que me espanta o espanto de estar por aqui
sabendo que um dia morri
e hoje canto

---

"Mato Grosso quis gritá
mas em cima eu falei"

- "Mas em cima eu falei". Cara, olha isso: "mas em cima eu falei". "Mas em cima". Isso não significa categoricamente nada, NADA, e ainda assim...

- E ainda assim é compreendido, faz sentido e é fluido, natural. Isso aí, rapaz, é que é poesia marginal.

[diálogo crítico literário andado pela paulista] — com Arthur Malaspina.

---

"um sorriso negro, um abraço negro
traz felicidade"

aí, nessa hora, eu gelei e parei de tomar minha gelada e olhei pro meio da roda de samba aqui em Santos que é de onde eu sou - caso vocês não saibam - e onde eu acabara de chegar vindo de sãopaulo, a cidade cinza puroconcretista de que eu nem gosto muito mas tava lá. Enfim, a voz continuou com o timbre conhecido e eu na ponta do pé lá de trás pra ver "não é possível que seja Inah, a Dona, não é não é não é" e, Pai do Céu (com maiúscula mesmo que ela é merecedora, a Dama do Samba de Sampa), e Pai do Céu, ERA Dona Inah. Ali - aqui - no Ouro Verde (quem é de Santos sabe e quem não é, deveria)

Depois, ali do lado, "Dona Inah, amo a senhora, andava por Lisboa com teu canto na orelha nos fones de ouvido" e ela, me rindo, "ah é? Vai ver que eu tava lá". E não é que tava, não é?

gênio, gênio, saravá evoé axé samba saravá

[cena nada banal]

---

quando eu era monge
era bem mais fácil estar quieto
sentado e meditando
quando eu era monge
o som das aves o choro o pranto
das crianças me tocavam
mesmo de longe quando
eu era monge
buscava a voz vinda pelo vento
aquietava dentro quando eu
era monge quando conseguia
respirar a todo momento eu
era monge que dizia -sorria
rapaz,sorria que é bem capaz de
o futuro vir e mudar tudinho essa twa tristeza-
quando eu era monge eu via beleza até que veio o vento veio o futuro
e o estar presente já foi passado
quando eu era monge
mesmo que só por uma semana
quando era monge era mais bacana

---

for you
eu ia daqui pra fora
(e eu nem voltava mais)

---

the house that ate mosquito pie
girl turned mosquito
mosquito pie and cow fingers
italian mosquitoes eating my belgian friend alive

this is their world

---

quando três das quatro palavras que tu procura
no dicionário
nem mesmo existem, sinal de que hoje não é bem dia
pra escrita.

---

a sina de um campos de carvalho
com o talento de um paulo coelho

---

piratas mexicanos subindo os panos de um
teatro
as tábuas do assoalho tablado todo rangendo
a prancha
lá fora na água o mar tubarões risos e
manobras
do barco que não abalroa
do barco que a barca aborda

---

chego à conclusão
de que não sei me vender
não sei

simples assim
:quando o produto que tenho
é esse
quando dá até para agra
decer um ou outro insulto
ou um elogio

-oh,mas como és bom nisso
meu garoto
mantenha o tino

quando até elogio escuto
mas nem um puto me salta aos olhos
entra no bolso
quando nem nada
preciso aprender a vender
de um modo decente
de um jeito
sensato
essa limonada

---

-estou impressionado com minha sorte
disse o menino cego ao virar esquina
sem nem saber que a menina
era morte

---

terra de ninguém
de mim também

---

então a gente acorda
e quando repara, repara mesmo
o mundo tá igualzinho a como já tava ontem
igual

---

cartão de débil
ou credo?

segunda-feira, 5 de agosto de 2013


Orfeu olhou Eurídice morta, levada ao Hades, olhou Caronte, o rio, o próprio senhor das profundezas, olhou a distância toda que deveria caminhar atrás da mulher, olhou Eurídice morta, olhou para a lira que carregava sentado ali, na beira do lago, olhou pro Hades e deixou pra mais tarde.


Tocando, pensou: "Todo mundo se vai, afinal, um dia ou outro, não vai?"
Voando através do vento veio o menino cinzento chamado de Serafim. Sim, Serafim, como eu disse. Voando veio e foi vindo e onde passava o menino as velhinhas diziam "Devagar, menino, vai se esborrachar pelo caminho!" mas ele não esborrachava, só voava através do vento por sobre o quintais jardins mesas de café e restos de tricô largado ao largo. Voando através do vento veio o menino Serafim e - sim, Serafim - a cada passada larga a cada batida de asa as velhinhas os velhinhos e até mesmo os meninos que brincavam de mãe da rua na rua e nas calçadas davam risada, rejuvenesciam, até os que não queriam, os que não precisavam, até que ficassem todos apenas riso apenas rindo do menino voando através do vento que - sim, meu filho, Serafim.

domingo, 4 de agosto de 2013

o homenzinho que falava "por quê?", uai

um dia chegaram ao fada que vivia no céu, lá no céu e além de tudo, com vários problemas debaixo do braço. Chegaram um milhão de moradores do céu, lá do céu e além de tudo, porque o fada costumava resolver os problemas de todo mundo, sempre que alguém precisava de alguém pra resolver os problemas que eles, o mundo, não conseguiam. Coisa de fada, sabe como é: era velho, velho, centenas de centenas de anos, mas novinho feito folha porque afinal ele era um fada, e fadas não envelhecem nenhuma centeninha de segundos. Aí chegou o mundo. "Ei, fada, resolve essa pra nós!", gritaram todos, e o fada viu que tinha uma centena de centena de voz ali na frente do jardim da frente, antes da macieira, e tudo com problemas debaixo do braço. aí o fada disse "Mas que querem, meu céu do céu, que querem vocês? Qual o problema, mundão dos céus, qual é?" E então disse todo mundo "É o velho muito muito muito velho que não pára de encher o saco!". E o fada "Mas que velho muito muito muito velho?". E eles "O que vive lá no alto além do céu e de tudo além, e não pára de dizer 'por quê?'. Você vai resolver, cê vai?"E o fada disse "Uai!, eu vou. Agora com licença, saiam todos da redondeza que eu vou varrer a calçada". "E o que que nós faz com os problema, seu fada?", perguntou uma vozinha acesa, no meio da multidão. O fada, que tinha acordado fazia nem mesmo quinze minutos - e que só não tava puto porque ele é fada, e fada não emputece, senão em que mundo é que nós estaríamos? - o fada falou "Deixa ali, baixo da macieira, que eu dou um jeito nisso mais tarde. Agora, meu mundo, passar bem vocês" e entrou pra tomar desjejum. 

Então, depois da varrida, depois da comida, o fada abriu asa e voou e voou e voou e continuou voando e passou todo o dia e passou as estrelas passou os planeta e foi indo e foi indo e voando e chegou lá no fim do universo, quase, num lugar em que tinha só uma igrejinha. Esfregando as vistas o fada viu que no alto do campanário, no alto da igreja, pra cima do sino havia um homem, um homenzinho, mas velho muito muito muito muito muito muito muito velho. Sentado. Parado. E o fada falou "Ei, você!" 

E nada. Nem mesmo um sinal de que o velho, o sino ou o mundo ouviam o fada. Nada. "Ei, você!!", falou outra vez, com duas exclamações pra ver se adiantava. Não adiantou. Então o fada, que tinha voado o dia todo e voado e voado e voado e voado e já tava cansado pegou, novamente, e voou. Chegou lá no alto, lá no campanário, e tentou outra vez. "Você! Ei!!!" 

este continho é uma adaptação livre do 
primeiro - e muito, muito bom, conto deste livro 
E veja você, não foi que deu certo? O velho homenzinho, que era mesmo mesmo muito muito muito muito muito muito muito velho piscou como que saído do sonho, como que acordando, olhou para o fada e falou "Por quê?". 

"Mas por que o quê, meu filho? Como 'por quê'? Você não sabe não o porquê de eu estar aqui, tão lonjão, de ter voado tanto? Você tem que saber!" 

E o velhinho "Por quê?". O fada, já muito cansado, nem se fez de rogado e foi logo dizer "Eu vim aqui porque você tá é enchendo o saco do povo de todo o mundo do céu e além de tudo, e eu vim aqui resolver." 

"Por quê?", disse o homenzinho muito muito muito muito muito muito velho. 

"Porque, diálogos!, porque você tá enchendo o saco com esse monte de porquês, e é bom você parar" 

"Por quê?", disse outra vez o homenzinho muito muito muito muito muito velho. 

"Porque sim, rapaz, porque sim. É claro que o pessoal desse mundaréu todo não vai aguentar, como já não aguentam, um homem muito muito muito muito velho que só apoquenta!" 

E outra vez disse o pequeno homem muito muito muito velho "Por quê?" 

"Olhe só, meu amigo, eu vim aqui na maior das boas vontades, ajudar o infinito de gente que hoje foi lá reclamar. Eis que tô aqui pra ajudar. Digo logo, pra economizar assunto, meu velho muito muito velho, que não vou ficar toda a vida tentando te fazer calar" 

"Por quê?", tornou, como sempre tornava, o homenzinho muito muito velho. 

"Porque, ora bolas! Porque sim!! Como, mas que coisa, porquês e porquês e porquês. Deu na telha não ter mais nada a dizer? Vou ter que ser honesto, sincero e bruto: mais um 'por quê?' que eu escuto e tu vai tomar um cascudo" 

Os olhos brilhantes de vida, a única coisa não velha do pequeno homenzinho bem velho, sorriam ao perguntar "Por quê?" 

E como tinha avisado, o fado desceu-lhe o cascudo, passou-lhe um sarrafo e saculejou o homem velho do campanário pra fora, dali pra baixo. Destino era a queda, e o homem caiu e caiu e caiu e caiu 

e caiu e caiu e caiu 
e a cada queda que caía, a cada estrela planeta cometa avião a cada nuvem a cada queda que caía o homenzinho ia deixando de ser velho. Primeiro virou mais moço, ali nos 50, depois meia idade, quarentão enxuto, depois bem mais jovem, depois adolescente com espinha na cara e tudo que tem direito. Caiu e caiu e caiu e a cada segundinho de caída ia ganhando mais tempo na vida e deixando no céu a velhice que, cá entre nós, nunca lhe caiu bem. 

Ao pousar, suave e levemente, era um bebê prontinho pra nascer.

ob cena, a mãe das cenas banais

É manhã. Os quero-queros gritam no ar, querendo sei-lá-o-quê. Passa um carrinheiro, com meia dúzia de latas, treze quilos de papelão e uma sacola de esperanças, meio rasgada ali pelo meio. Na sacola um cachorro dorme, sarnento, sonhando ser imperador do Catão.

Rola um monte de feno, em forma de cubo, misturado a traças, taças quebradas e cobres roubados. O ar da cidade está frio-poluído como sempre, mas um tímido sol arrisca espiar por entre a chuva. Chove.

Um pipoqueiro estoura os primeiros milhos do dia. Espera vender um milheiro. As contas estão atrasadas, ele pensa, e coloca manteiga na panela fechada. Passa uma criança correndo, feliz, bem desperta como só crianças de seis anos conseguem. Quanto mais se vai, se envelhece, mais se dorme. Até que, um belo dia, se morre.

O leiteiro reclama da coluna enquanto abaixa no batente. Dali pega a garrafa vazia e ali deixa a outra, cheia. Leiteiros são seres que não existem mais, como grifos, fadas e dragões. T-rex ainda existem, por isso não entram na lista.

O jornaleiro abre a banca. Um dia de apostas, pensa. E sorri. Dali a pouco um mendigo comprará uma cartela de raspadinha, com as poucas moedas que conseguiu, e encontrará o prêmio máximo. A vida dele muda, por causa do jornaleiro. Pra ele, jornaleiro, o máximo da vida acabou de ser alcançado. Fecha a banca e vai embora. Pra onde? Talvez nem Deus saiba.

Um cachorro passa correndo, em primeiro plano, seguindo o rastro de desesperança e de outro cão, de Catão, ou algo assim. Um observador no alto do oitavo andar cospe pela janela. Na janela do sete-e-meio alguém recebe a cusparada. E cospe de volta. O cuspe alcança o ápice da parábola quando bate no nono andar, e cai.

Nós dois, ao canto, nus, valsamos a dança do acasalamento.

sábado, 3 de agosto de 2013

cena banal já-perdeu-se-a-conta

o copo cai, minha mão ainda tocando o vidro. barulho. licor no fundo escorre lento, aos poucos, copo caído sobre o tampo da mesa branca, licor seguindo, minha mão no vidro. levanto o copo, licor não suja nada pra além. não sei. sorrio enquanto o vidro levanta, lembro da corrida de hoje, da menina suada com quem falo, da arma apontada pra mim noutra noite, pra minha vida passada, pro antes-da-morte, pro fim. sorrio e começo a escrever, escrevo, me leem. não sei. não rio. vida em suspensão, espécime de estudo, eu mesmo, a menina que hoje na praia meditava não me dizia mais nada. não creio em meditação, em deus nem no capiroto. o que tenho, o que tem, eu não gosto. não sei. as fotos do balanço holandês se perderam na nuvem, nos bits, nos bytes, as poucas mordidas na mina me sabem amargas, não lembro. não sei. não sei. vocês, também, nem.
o amor é uma coisa
e esta coisa
está quebrada

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acordei iconoclasta
já faz alguns bons anos

ainda não dormi

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ainda escrevo o porquê de eu usar americano pros americanos, e não estadunidense

e ainda escrevo o motivo de eu não me incomodar nadinha em não ter nome de explorador italiano

e ainda explico que isso não me faz menos antiimperialista

a única coisa que eu faço agora é antecipar que vou ser acusado de vendido, ideólogo do tiosamsismo e outras barbaridades

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a crítica literária não pode se sobrepôr à leitura de literatura

[nota mental]

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ói, véi, tamém nu' exagera

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tu
do que me interessa

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tenho saudades tuas
por favor
vamos marcar de nos ver
preu te entregar

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eu sou grande mas não sou dois
e
cá entre nós
nem tão grande assim eu sou

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daqui a pouco ela volta
daqui a pouco ela volta e eu
ainda
nem saí

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cês brincaram demais
de polícia e ladrão
quando o que deveriam
eram ter de escolinha
médico
ou calado a boca e simplesmente aberto um livro
em vez de gritado aos quatro ventos
que salvaro o mundo

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hoje vi, na rua, uma mulher bonita bonita linda que eu pensei que era você. Não era, era? Era você? Não era. Hoje eu vi, você, linda bonita linda, eu vi. Mas n'era você. Linda. Mas não.

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porque sim

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nossos amigos vão ficando velhos
suas caras cheias
inchando
as veias
das pernas saltando
nossos amigos vão
ficando velhos gordos
e frouxos
mostrando o queixo
papada
mostrando que já não valem
nada
que o passado foi
se uma promessa
foi
nossos amigos
e nós
envelhecemos

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depois
de uma arma apontada
pra sua cara
depois de uma arma
você vem e diz
se é mesmo forte
tranquilo, se é calmo
se a vista da morte não te turva a
vista
depois de uma arma
(mas antes de um tiro)
você bem me diga
se é macho se é forte
ou se tuas pernas
tremem qual lombriga
depois de uma arma você vem e diz
se pôde sorrir
porque se não pôde
tua tranquilidade
é poser

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sem sermos padres
damos sermões

quantos senões não escondem
as partes
de nós
que não sabem?

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tem um erro
tem um erro
teu um erro
um buraco
a mão no cabo da pá
acaba que é minha mão
tenho um erro
tenho um erro
tenho um erro
tu

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ler ou sair
pra correr
ler
ou sair pra
correr
correr
ler ou sair
para ler
correr
correr
correr

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dos pés à cabeça
esqueça

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Vitórias póstumas de nós tudo

à primeira traça que
silente
roeu as letras
dos poem' da gente
dedico eu estas vitórias
póstumas