domingo, 4 de agosto de 2013

ob cena, a mãe das cenas banais

É manhã. Os quero-queros gritam no ar, querendo sei-lá-o-quê. Passa um carrinheiro, com meia dúzia de latas, treze quilos de papelão e uma sacola de esperanças, meio rasgada ali pelo meio. Na sacola um cachorro dorme, sarnento, sonhando ser imperador do Catão.

Rola um monte de feno, em forma de cubo, misturado a traças, taças quebradas e cobres roubados. O ar da cidade está frio-poluído como sempre, mas um tímido sol arrisca espiar por entre a chuva. Chove.

Um pipoqueiro estoura os primeiros milhos do dia. Espera vender um milheiro. As contas estão atrasadas, ele pensa, e coloca manteiga na panela fechada. Passa uma criança correndo, feliz, bem desperta como só crianças de seis anos conseguem. Quanto mais se vai, se envelhece, mais se dorme. Até que, um belo dia, se morre.

O leiteiro reclama da coluna enquanto abaixa no batente. Dali pega a garrafa vazia e ali deixa a outra, cheia. Leiteiros são seres que não existem mais, como grifos, fadas e dragões. T-rex ainda existem, por isso não entram na lista.

O jornaleiro abre a banca. Um dia de apostas, pensa. E sorri. Dali a pouco um mendigo comprará uma cartela de raspadinha, com as poucas moedas que conseguiu, e encontrará o prêmio máximo. A vida dele muda, por causa do jornaleiro. Pra ele, jornaleiro, o máximo da vida acabou de ser alcançado. Fecha a banca e vai embora. Pra onde? Talvez nem Deus saiba.

Um cachorro passa correndo, em primeiro plano, seguindo o rastro de desesperança e de outro cão, de Catão, ou algo assim. Um observador no alto do oitavo andar cospe pela janela. Na janela do sete-e-meio alguém recebe a cusparada. E cospe de volta. O cuspe alcança o ápice da parábola quando bate no nono andar, e cai.

Nós dois, ao canto, nus, valsamos a dança do acasalamento.

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